A Forma das Letras, livro de Maria Ferrand e João Manuel Bicker

A Forma das Letras

editora: ALMEDINA
A importância do estudo da forma das letras e das suas componentes parece indiscutível para os profissionais que com elas trabalham: designers, grafistas, calígrafos, impressores, paginadores. Mas a linguagem tipográfica é tão rica e colorida que nos pareceu interessante ilustrá-la num pequeno livro que não é mais do que um breve dicionário sobre a anatomia das letras. A generalidade dos termos tipográficos provêm do tempo em que as letras eram impressas a partir de caracteres de chumbo. Estes eram primeiro desenhados, depois gravados, fundidos em matrizes para produzir pequenos blocos de c... [Leia mais]
Descrição
A importância do estudo da forma das letras e das suas componentes parece indiscutível para os profissionais que com elas trabalham: designers, grafistas, calígrafos, impressores, paginadores. Mas a linguagem tipográfica é tão rica e colorida que nos pareceu interessante ilustrá-la num pequeno livro que não é mais do que um breve dicionário sobre a anatomia das letras. A generalidade dos termos tipográficos provêm do tempo em que as letras eram impressas a partir de caracteres de chumbo. Estes eram primeiro desenhados, depois gravados, fundidos em matrizes para produzir pequenos blocos de chumbo ­ os tipos móveis ­ que eram depois compostos, cobertos com uma camada de tinta e pressionados contra uma folha de papel numa prensa, para produzir as páginas impressas dos livros. Hoje em dia as letras imprimem-se por meios fotográficos ou electrónicos numa variedade impressionante de suportes e tamanhos. Com o boom tecnológico do final do milénio, a tecnologia digital, o multimédia, a Internet e os ambientes virtuais, muitas letras não chegam sequer a ser impressas; elas são antes visionadas, projectadas, animadas e coreografadas. De um modo geral a terminologia tipográfica emprega termos de anatomia, arquitectura e geometria em analogias visuais que quase se auto-definem, mas até hoje nenhuma nomenclatura definitiva foi geralmente aceite para designar as componentes das letras. A maior parte destas definições nasceram da prática dos mestres tipógrafos, nas oficinas de impressão, e são termos familiares que foram passando de geração em geração, com variantes que apenas sublinham o espírito vivo da tipografia. Este livro é, em essência, um manual de anatomia tipográfica pensado mais como um livro de fruição do que como um livro de estudo. É também uma homenagem a tipógrafos e designers que admiramos pela sua obra exemplar e pelo magnífico desenho dos tipos que idealizaram. RECENSÃO Aquela "orelha", em vez de servir para escutar, é um "apêndice da letra g minúscula, que assume as mesmas formas do terminal: em gota, em botão, em bandeira ou em gancho". As letras em forma de imprensa têm, pois, uma anatomia própria. Num corpo 10 ou 12, podemos falar na cabeça do "r", no olho do "e", na barriga do "b", na espinha do "s", no ombro do "n", no braço do "f", na cauda do "j", na perna do "k", no pé do "y". Os tipógrafos dos tempos em que era vulgar distinguir maiúsculas e minúsculas pelas expressões "caixa alta" e "caixa baixa" (e, em termos de desenho, são dois alfabetos distintos) ou os designers contemporâneos interessados em escolher os "tipos" de letra atendendo à respectiva "altura x" ou a cada específica "modulação" convivem, rotineiramente, com esta nomenclatura. E, no entanto, com o livro de Maria Ferrand e João Manuel Bicker, A Forma das Letras, o leitor vulgar conclui que "filete" não é nome de peixe nem "enlace" significa casamento. Em breves descrições, que chegam a ganhar alguma poética sem perderem o rigor técnico, até se descobre o que significa uma palavra tão bonita como estranha: "serifas". Se esta obra, que é também um livro-objecto - ou não fossem os autores dois dos esteios da firma de design FBA. Ferrand, Bicker & Associados -, apenas se resumisse a catalogar esta terminologia, em jeito de dicionário, já valeria o dinheiro. Mas nada melhor do que ilustrar estes conceitos com letras de diversos tipos, esclarecendo as suas características e, ainda por cima, fazendo um concisa biografia dos respectivos autores. A História está cheia de notáveis calígrafos, desde os que conceberam as romanas capitalis monumentalis, passando pelas minúsculas carolíngias manuscritas e pelas teorizações que fizeram, no século XVIII, Bodoni e Didot, até se chegar às letras desenhadas, por Slimbach, a pensar apenas nas novas tecnologias. Um vasto mundo, que também se pode medir, numa régua mais breve, entre os caracteres de chumbo e as letras animadas em ambientes virtuais. De Claude Garamond (1480-1561), o gravador parisiense que usou pela primeira vez o tipo de letra com o seu nome numa edição de Paraphrasis in Elegantiarum Libros Laurentii Vallae, de Erasmo, criando um standart que dura há mais de quatro séculos, até Neville Brody (1957), o designer que esteve ligado a algumas das mais fascinantes capas de discos da cena musical independente e a revistas de culto das décadas de 80 e 90, surge uma galeria de 24 criadores e dos seus respectivos tipos de letra mais famosos. Assim se decobre, por exemplo, que o tipo Trajan, criado por Carol Twombly, neste século, "é inspirado na inscrição da Coluna de Trajano, em Roma", enquanto o conceito original do Futura, "exemplo clássico de um tipo geométrico", desenhado por Paul Renner, "foi baseado na filosofia da Bauhaus". Dos primórdios do Gótico à contemporaneidade do Helvetica, as fontes tipográficas com que se deparam, a cada passo, as nossas pupilas integram o popular Times New Roman, o fortemente estilizado AvantGard, a experimentação representada pelo Blur, o encanto relativamente recente do ScalaSans. E, afinal, a quem se destina um manual destes, cujo o texto foi composto em caracteres Centauro, desenhados por Bruce Rogers em 1914, assim tão breve, pequenino, delicado, bonito? A ser uma obra indispensável na mesa do designer. A funcionar como consulta obrigatória para o gráfico. A figurar na estante de todo o tipo de estudioso. A convir a qualquer professor. A merecer as atenções de um estudante do que quer que seja. A justificar o dinheiro gasto pelo historiador. A explicar a forma como costumam publicar os textos ao escritor. E, já agora, ao jornalista. A saciar, em suma, todos os curiosos. in Diário de Notícias, 26 de Dezembro de 2000 A Forma das Letras - Um Manual de Anatomia Gráfica São seres especiais, umas vezes borboletas, outras lâminas afiadas. Andam connosco todos os dias e nem todos os dias lhe prestamos a devida vassalagem. São quase tão velhos como o pensar, e novo nas horas. transportam imensas visões do mundo e não passam de pequenos detalhes, formas, elegantes e concretas: são caracteres com carácter. Como uma espécie de livro de cabeceira, mas de poesia, eis que Maria Ferrand e João Manuel Bicker lançam A Forma das Letras - Um Manual de Anatomia Tipográfica, numa ressuscitada Almedina. Sessenta e tal páginas que, depois de uma pequena história do alfabeto tipográfico, vai apresentando curtas biografias de alguns dos mais famosos tipógrafos, as respectivas criações, que ele há-as tão belas. Sempre tão breves como um haiku, os autores acrescentam-lhe ainda um glossário de termos técnicos que parecem acariciar as letras, ou não fossem eles retirados da anatomia (barriga), da arquitectura (arco) e da geometria (vértice). São seres especiais, portanto, com uma apresentação cuidada, que está à altura destas formas que nos sustentam. João Paulo Cotrim in Ícon, Março de 2001

Dados Técnicos
Peso: 690g
ISBN: 9789724014357