Descrição
Boaventura Cardoso, a escrita de Angola
Um livro, ainda que não se destine a contar uma estória, tem sua trajetória sempre povoada por fatos que acabam por intervir na sua elaboração e na fisionomia que ele apresenta. Este Boaventura Cardoso, a escrita em processo também traz acoplado a suas páginas um conjunto de experiências que, envolvendo o escritor, os colaboradores, os editores e as organizadoras, exprime um pouco a atmosfera que cerca não a produção específica do livro, mas, de certo modo, todo o universo das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, com foco especial no ensino e na pesquisa que em torno delas vai conquistando cada vez mais adeptos. Até o momento são poucas as editoras dispostas a apostar em obras voltadas para a História e o patrimônio cultural acumulado pelos países africanos, apesar dos sinais de mudança que já podemos detectar em nosso quadro geral.
Boaventura Cardoso é um dos escritores angolanos mais lidos na atualidade, sendo a sua obra traduzida em várias línguas. Juntamente com a de Pepetela e a de José Luandino Vieira, a sua produção vem sendo muito estudada pelos pesquisadores brasileiros. A importância de seu lugar no universo literário de língua portuguesa, no entanto, contrasta com a carência de material bibliográfico sobre sua produção, fato que tem proporcionado enormes dificuldades aos que o elegem para objeto de estudo. Em suma, a descoberta de sua narrativa por tantos leitores não se fez acompanhar da sistematização de trabalhos críticos a seu respeito, e isso significa que não há ainda uma bibliografia reunida e publicada em livro que possa apresentar de forma mais completa a sua produção artística, o que poderia auxiliar os estudiosos de sua obra e multiplicar o seu número de leitores.
Nesse sentido, tivemos em conta na preparação do livro a necessidade de despertar entre aqueles que têm seus primeiros contatos com o universo africano um interesse vivo por sua literatura. Acreditamos que Angola com seus escritores pode ser uma bela porta de entrada para o continente, pois, para além da afinidade lingüística, são fortíssimas as ligações que atravessaram séculos impondo sinais inequívocos em nosso modo de ser. Retomar em outros parâmetros os circuitos das viagens entre as duas margens do Oceano Atlântico é urgente e a literatura pode integrar esse movimento.
Sobre as organizadoras
RITA CHAVES é doutora em Letras pela Universidade de São Paulo e professora e coordenadora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na mesma universidade, onde também dirige o Centro de Estudos Portugueses. É pesquisadora associada do Centro de Estudos Afro-Asiáticos da Universidade Cândido Mendes. Publicou A formação do romance angolano (FBLP, 1999). É co-organizadora de Portanto … Pepetela, Literaturas em movimento – hibridismo cultural e exercício crítico, Brasil/África: como se o mar fosse mentira.
TANIA MACÊDO é doutora em Letras pela Universidade de São Paulo e professora nos cursos de graduação e pós-graduação na mesma instituição e na Universidade Estadual Paulista. É co-organizadora de Portanto … Pepetela, Literaturas em movimento – hibridismo cultural e exercício crítico, Brasil/África: como se o mar fosse mentira. Publicou Angola/Brasil: estudos comparados (Arte &Ciência).
INOCÊNCIA MATA é doutora em Letras pela Universidade de Lisboa, onde leciona. É também colaboradora da Biblos – Enciclopédia das Literaturas de Língua Portuguesa e do Dicionário temático da lusofonia. Autora de um volume de crônicas – A suave pátria (2005), publicou vários livros de ensaios na área das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, entre os quais Emergência e existência de uma literatura – o caso santomense, Diálogo com as ilhas e Literatura Angolana: silêncios e falas de uma voz inquieta. É co-autora do manual Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa e co-organizadora de Mário Pinto de Andrade: um intelectual na política.
Sumário
Índice
Apresentação
Rita Chaves, Tania Macêdo
PARTE I – Nas trilhas da memória e processos da escrita
Um cesto de recordações
Boaventura Cardoso
Entrevista
Rita Chaves, Tania Macêdo
Cronologia
PARTE II – Ensaios: A fala sob fogos
Compromisso com a língua literária angolanizada na escrita de Boaventura Cardoso
Jorge Macedo
Entre a voz do fogo e o eco materno do mar: antigos capilares da terra
Fernando Costa Andrade
A fala como autodeterminação do povo angolano em Boaventura Cardoso
Benilde Justo Caniato
Exercícios de estilo: ritos e ritmos em narrativas de Boaventura Cardoso
Íris Maria da Costa Amâncio
Processos narrativos e recriações linguageiras na obra de Boaventura Cardoso
Maria Nazareth Soares da Fonseca
A alquimia do verbo e a reinvenção do sagrado
Carmen Lúcia Tindó Ribeiro Secco
O fogo da fala em “Nostempo de Miúdo”
Maria Aparecida Santilli
Dizanga dia Muenhu: neo-humanismo e voz coletiva
Ana Maria Mão-de-Ferro Martinho
A inquietação das águas: um comentário a Mãe, materno mar de Boaventura Cardoso
Francisco Soares
Maio, mês de Maria: as águas da memória em movimento
Inocência Mata
O social e o religioso em dois romances de Boaventura Cardoso
Luís Kandjimbo
A intentona fracassada de 27 de maio de 1977 num romance de Boaventura Cardoso
José Luís Pires Laranjeira
N’goma yoté! / Animem o batuque! (a re-tradicionalização em A morte do velho Kipacaça)
Jane Tutikian
A oralidade nos tempos modernos
Jurema José de Oliveira
A morte do velho Kipacaça aproximando-nos de Novos pactos, outras ficções
Maria Teresa Salgado
Pelo ventre sagrado da terra
Laura Cavalcante Padilha
Códigos e habitus culturais: a dinâmica do diverso
Benjamin Abdala Junior
CADERNO DE FOTOS
PARTE III – Sob o lume da invenção
Breve apresentação dos textos de Boaventura Cardoso
Rita Chaves, Tania Macêdo
Textos selecionados de Boaventura Cardoso: “Nostempo de Miúdo” (Dizanga dia Muenhu)
“O sol nasceu no poente” (A morte do velho Kipacaça)
O signo do fogo
Maio, mês de Maria
Mãe, materno mar
“Pai Zé Canoa miúdo no mar” (O fogo da fala)
PARTE IV
Fortuna crítica
PARTE V
Sobre os autores
Posição #5284 na lista de mais vendidos da Livraria 30porcento.
Dados Técnicos
Peso: 510g
ISBN: 9788598325156