Descrição
A cubana Yoani Sánchez mantém o blog Generacíon Y desde abril de 2007. Nele, traça
cotidianamente um retrato sobre como é viver em Cuba nos dias de hoje. Graças à sua
autenticidade, o blog conquistou leitores em todo o mundo e alguns de seus posts chegam a
render seis mil comentários. O jornalista Sandro Vaia viajou a Havana e gravou mais de vinte
horas de entrevistas com Yoani e seu marido, o jornalista Reinaldo Escobar, para escrever o
livro
A Ilha Roubada – Yoani, a blogueira que abalou Cuba, lançamento da editora Barcarolla.
Longe de se colocar como um símbolo da luta pela liberdade de expressão ou uma candidata a
mártir político, Yoani usa o blog para narrar e comentar acontecimentos do dia-a-dia por meio
de uma linguagem clara, bem humorada e muitas vezes irônica. Não por acaso, ela recebeu o
prêmio Ortega y Gasset, oferecido pela mesma Prisa que edita o jornal espanhol El País, na
categoria Jornalismo Digital. O governo cubano, entretanto, não lhe concedeu a autorização
para ir à Espanha. Quem recebeu o prêmio em seu nome foi um cubano radicado em
Barcelona, o também blogueiro Ernesto Hernández Busto.
Sandro Vaia, jornalista brasileiro com mais de trinta anos de carreira, teve a idéia de escrever o
livro depois de passar a ler o blog de Yoani e acompanhar o reconhecimento internacional
obtido por ela. Nas palavras de Vaia, em seus escritos Yoani não comporta “uma clássica
militância dissidente em relação ao regime cubano”. Longe de tecer considerações políticofilosóficas, ela prefere narrar as “atribulações da vida cotidiana de uma comunidade submetida
à escassez material e à opressão derivadas da privação de liberdades básicas”.
O livro é mais do que um mero perfil biográfico. A partir dos depoimentos de Yoani e Reinaldo,
Vaia contextualiza o leitor em relação a Cuba. Assim, com várias histórias sobre o cotidiano na
ilha, o autor tece um retrato sobre o país e seus habitantes.
Descendente de imigrantes espanhóis, Yoani Sánchez nasceu em 1975, em Havana. Ela conta
que, muito embora fosse um homem de pouco estudo, seu pai sempre gostou de ler. Assim,
crescendo rodeada por livros, ela construiu uma espécie de mundo paralelo graças à literatura
de autores como Victor Hugo, Balzac, Zola e Dostoiévski. Determinada a ser a primeira
universitária da família, ela a princípio quis se tornar jornalista. No entanto, logo percebeu o
absurdo de ser jornalista em um país sem liberdade de expressão e optou por estudar filologia.
Conheceu Reinaldo, duas décadas mais velho, quando estava na faculdade. Ele fora
expurgado da profissão de jornalista em 1988, quando trabalhava no Juventud Rebelde, e seus
artigos “não se alinhavam à linha editorial do jornal”. Chegou a trabalhar como mecânico de
elevadores para garantir o sustento. No início do casamento, eles sobreviviam vendendo coisas
no mercado ilegal e dando aulas clandestinas de espanhol. Nos dias de hoje, além de
continuar lecionando espanhol, eles trabalham como guias alternativos para pessoas que se
interessam em percorrer os pontos turísticos não convencionais de Havana.
Mesmo sobrevivendo com dificuldade, Yoani e Reinaldo não são dependentes do Estado. Com
isso, eles desenvolveram, além da autonomia material, uma certa autonomia política. Segundo
ela, quando “uma pessoa não depende do Estado para comprar um televisor, quando não
precisa depender de meios políticos para passar um fim de semana na praia ou para comprar
qualquer eletrodoméstico, isso de alguma maneira tira o chip da obediência”. A despeito da
censura existente, portanto, eles procuram se comportar como pessoas livres.
Em 2004, associaram-se a um grupo de amigos e fundaram a revista virtual Consenso. Foi a
primeira experiência de Yoani com a rede. A revista tinha como objetivo inicial abrir o debate,
permitir que pessoas de diversos matizes políticos se manifestassem, mas logo passou a ser
usada por figuras ligadas a partidos políticos como se fosse uma espécie de órgão oficial
dessas agremiações. Em função disso, Yoani e Reinaldo perceberam que o melhor a fazer era
se afastar e buscar outros meios para expressar suas opiniões.
Assim, com a ajuda de alguns amigos da Alemanha, criaram, em 2006, o portal
desdeCuba.com para exercer o que chamam de “jornalismo livre”. O portal comporta a revista
Contodos e vários blogs, dentre os quais o Generación Y de Yoani e o Desde aquí de
Reinaldo.
Uma vez criado, o Generación Y adquiriu notoriedade rapidamente. Um texto no portal do The
Wall Street Journal foi apenas o começo. Com o passar dos meses, os acessos, os
comentários e a repercussão só aumentaram, vindos de todas as partes do mundo. Como não
poderia deixar de ser, os partidários do regime cubano viram em Yoani uma espécie de
ameaça e passaram a espalhar boatos, como o de que ela não existiria, mas seria uma criação de intelectuais cubanos dissidentes. Outra acusação recorrente é a de que ela existe, sim, mas
estaria na folha de pagamentos de alguma organização anticastrista.
Generación Y tem o acesso bloqueado em Cuba. Assim, Yoani é um caso talvez único de
blogueira que não consegue visualizar o próprio blog. Para atualizá-lo, ela escreve os posts,
grava-os em um disquete, vai a uma lan house e os envia por e-mail a uma rede de amigos
estrangeiros. Estes traduzem os textos para o italiano, o francês e o inglês e os remetem para
o servidor, que fica na Alemanha. Só então é que os posts são publicados. Posteriormente,
também por e-mail e graças a essa rede de amigos, Yoani recebe os comentários dos leitores.
Dentre as várias razões do sucesso do blog, Yoani aponta o fato de fazê-lo com o rosto
descoberto e usando o seu próprio nome. Segundo as suas próprias palavras, saber que “essa
mulher tem um rosto, existe, está em Cuba e é real ajudou na identificação com os leitores”,
além de desqualificar de imediato boa parte dos ataques feitos contra ela. A revista Time
colocou Yoani entre as cem pessoas mais influentes do mundo sob a rubrica “Heróis e
Pioneiros”. Ela, entretanto, diz preferir que seu nome estivesse sob a rubrica “Cidadãos”.
Dados Técnicos
Peso: 290g
ISBN: 9788598233376