Descrição
Em 1871, Luiz Gama diria que a resistência é uma
virtude cívica. Pouco mais de cem anos depois, em
julho de 1978, iniciava-se um grande movimento civil
de mulheres e homens negros contra o racismo. Essa
luta contra todo tipo de preconceito e discriminação
vem de longe, desde quando nossos antepassados
foram sequestrados do continente africano e aqui
escravizados para enriquecer os colonizadores das
Américas.
Apesar da escravidão, resistimos. Hoje podemos
evocar uma linhagem de lideranças que bravamente
se insurgiram contra a ignomínia de torturas e castigos
do cativeiro. Aquilombaram-se. Defenderam a si e
aos seus com armas, palavras e manifestações. Com
Zumbi e Dandara nos Palmares e João Cândido e Luiza
Mahin nas revoltas populares. Com o abolicionismo
de André Rebouças, de José do Patrocínio e do próprio
Luiz Gama, que atuavam nas redações de jornais e na
defesa intransigente da liberdade. Com a alta literatura
de Machado de Assis, Maria Firmina dos Reis e Lima
Barreto. Com Aristides Barbosa, Solano Trindade e os
200 mil mulheres e homens da Frente Negra Brasileira
(FNB) de 1931 – primeira organização que enfrentou
as dicotomias raciais e as teses de eugenia contra
negros e mestiços. Os nossos antepassados ilustres
foram torturados, assassinados, embranquecidos
e apagados do panteão da história oficial. Ao lado
de tantos outros anônimos, sobreviveram a um
verdadeiro genocídio e nos deixaram um riquíssimo
legado social, intelectual, cultural, religioso. Um
capital simbólico inestimável.
Aquela juventude negra que em 1978, em plena
ditadura civil-militar, se insurgiu e saiu em protesto
pelas ruas de São Paulo bradando que a democracia
racial era um mito, denunciando a farsa da abolição e a
violência policial, dava continuidade à luta dos nossos
antepassados, por isso hoje se junta ao panteão de
nossa história: Lélia Gonzalez, Hamilton Cardoso,
Lenny Blue, Neuza Maria Pereira, Milton Barbosa,
José Adão de Oliveira, Rafael Pinto e tantos outros
que povoam as páginas deste livro protagonizaram
marchas, encontros, festivais, publicações, conquistas
constitucionais e políticas públicas para a população
negra.
Hoje, muitas lideranças continuam firmes nas
trincheiras do combate ao racismo. Os movimentos,
sobretudo de mulheres negras, ganham força, e
surgem novos coletivos para impedir retrocessos e
denunciar a ação dos agentes do Estado no sistemático
encarceramento e assassinato da juventude negra nas
periferias das cidades. O genocídio ainda continua
– porque “a carne mais barata do mercado é a carne
negra”, como canta Elza Soares. A desigualdade salarial,
de oportunidades, de direitos, sobretudo para as
mulheres negras – herança maldita da escravidão que
no pós-abolição se moderniza e produz o abandono
de milhões de seres humanos à própria sorte –, é o
principal motivo que faz o Brasil ser reconhecido como
um país antidemocrático, autoritário, conservador,
elitista e eurocêntrico. Um país que revive o passado
repressor e onde o futuro demora a chegar.
Celebrar, por meio deste livro, os quarenta anos do
Movimento Negro Unificado (MNU) é um modo de
homenagear cada afro-brasileiro, cada negro e cada
negra, por resistir e continuar lutando por direitos,
cidadania e liberdade até que sejamos todas e todos
livres do racismo, da pobreza, do machismo, da
LGBTIfobia e de qualquer forma de intolerância.
Axé e boa leitura!
Posição #12284 na lista de mais vendidos da Livraria 30porcento.
Dados Técnicos
Páginas: 216
Peso: 565g
ISBN: 9788594931634