A Cor da Língua e Outras Croniquinhas de Linguista, livro de Sírio Possenti

A Cor da Língua e Outras Croniquinhas de Linguista

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Faz muito tempo que a lingüística está no mercado. Mas não se popularizou. A rigor, é como se não existisse. Em alguns manuais, mesmo de campos vizinhos, aparecem às vezes alguns conceitos da lingüística, mas não produzem efeitos relevantes. Ninguém muda de posição sobre nada por causa do sintagma e do paradigma.

Poder-se-ia resumir o discurso corrente sobre a língua em duas palavras: é normativo ou é preconceituoso. Às vezes, é ambas as coisas. Muito freqüentemente, é uma por causa da outra.

O preconceito surge muito claramente quando se trata da língua de min... [Leia mais]
Descrição
Faz muito tempo que a lingüística está no mercado. Mas não se popularizou. A rigor, é como se não existisse. Em alguns manuais, mesmo de campos vizinhos, aparecem às vezes alguns conceitos da lingüística, mas não produzem efeitos relevantes. Ninguém muda de posição sobre nada por causa do sintagma e do paradigma.

Poder-se-ia resumir o discurso corrente sobre a língua em duas palavras: é normativo ou é preconceituoso. Às vezes, é ambas as coisas. Muito freqüentemente, é uma por causa da outra.

O preconceito surge muito claramente quando se trata da língua de minorias ou de marginalizados sociais, contra todas as evidências produzidas pelas descrições já feitas nos últimos séculos. Aparece menos claramente, mas nem por isso deixa de produzir os mesmos efeitos, quando tem por alvo diferenças regionais. E é dolorosa e simplificadamente normativo, na medida em que apenas repete as mesmas listinhas de certo e errado de sempre, seja na escola, seja nas colunas de jornal, seja nos programas de rádio e TV. Há décadas, sem prestar a mínima atenção nem mesmo à literatura mais recente, que sempre foi, quando serviu a sua causa, a fonte dos gramáticos.

Os textos que se seguem são, assim, uma tentativa de remar contra a corrente. Foram todos publicados nos últimos cinco anos. Quase sempre, nasceram de alguma notícia de jornal ou revista, de um comentário de TV ou de algum artigo da imprensa. Assim, de certa forma, são respostas a opiniões que li e ouvi. E que me revoltaram. Sei que minha resposta nunca foi ouvida por aqueles a quem se dirigia. Nem por isso achei que deveria calar-me, porque havia outro público, por um lado, e, por outro, porque penso que, muito freqüentemente, o preconceito é fruto da ignorância. Muitos pensam mesmo que certas formas de falar são inferiores e erradas. Ouve-se isso até mesmo na universidade, e mesmo da parte de estudiosos de culturas e organizações populares e até de militantes de suas causas.

Num sentido bem preciso, esses textos são basicamente de divulgação. Lamentavelmente, não se trata de dar a conhecer os últimos "avanços" de um campo, mas de um ponto de vista que é já bem antigo. Em especial, divulga-se um ponto de vista alternativo ao dominante, ao único. Eventualmente, e de forma intuitiva (não técnica), apresenta-se outra análise dos fatos lingüísticos, seja para mostrar que há sistema nas formas desprestigiadas, seja para mostrar que uma análise um pouco mais sofisticada é possível. O objeto de combate é o discurso único, que, se é ruim em política e em economia, não é melhor quando se refere à língua.

Dados Técnicos
Peso: 350g
ISBN: 9788585725648