Descrição
O trabalho universitário em favor de políticas públicas dos governos
democráticos possui, hoje, características identificadoras, embora no
interior de significativas diversidades: trata-se de botar o dedo nas
urgências, fundamentar o discurso pelo laço prático-teórico e encarar as
mediações. Explicando. O sentimento de crise econômico-financeira tem
história na consciência das pessoas que estudam processos e métodos de
governança. Haja vista o debate incessante (e as decisões dramáticas para as
populações) sobre as reestruturações produtivas, os contingenciamentos
governamentais, os superávits, as dívidas pagáveis e impagáveis que povoam
o cenário comum dos que pensam as coisas públicas desde o final dos anos
1980. Deste modo, quem estuda vai ao cerne dos problemas e vê que o lugar
para compreender radicalmente o valor da ação pública é aquele da necessidade,
no qual um misto de ausência de política e de não-compromisso governamental
leva à anomia social, ao empobrecimento das gentes, à ilegalidade
do sistema de vida. Conhecemos bem a criação de “estados paralelos” em
cidades brasileiras. Tratar dos processos candentes e dos lugares de urgência
é um ato científico e político que perfaz os sentidos da necessidade associados
à compreensão mais eficaz dos fenômenos quando vistos em espectro mais
amplo. Em segundo lugar, o trabalho científico evidencia que um lugar estabelece
relações fenomenológicas com outros lugares e as obras que buscam
compreendê-los fazem teoria precisamente na busca de seus sentidos mais
entranhados. O estudo das mudanças socioclimáticas do território e dos
modos de realização dos planos diretores, para começar com dois exemplos,
leva à discussão, de um lado, sobre o destino humano na Terra (visto pelo
ângulo do destino de grupos selecionados de comunidades) e, de outro, sobre
as possibilidades que têm os municípios de ainda decidir autonomamente
sobre seu território. Temas mundiais, decisivos para a vida social e para a continuidade da democracia. Botar o dedo nas urgências implica estar a discutir
sobre o desencantamento e/ou o reencantamento do mundo. Teoria e
prática, juntas. O terceiro ponto é que o trabalho científico encara as mediações
na vida pública. O velho e bom tema sociológico, que se organiza sob
novos sentidos na contemporaneidade, especialmente por vias das novas
tecnologias de comunicação, significa que um conjunto de instituições pode
facilitar ou dificultar a construção de políticas de governo em vista do bemcomum.
Cidadãos e governos não estão ligados diretamente. Entre eles há
culturas comunitárias, interesses econômicos, tradição política local/regional,
o que demanda lucidez analítica, crítica dos fenômenos empíricos e ligações
teóricas, a fim de explicar adequadamente o que acontece na relação entre a
cidadania e o poder local. Em suma: para que se concretizem políticas públicas
(preferivelmente integradas e amplas) é necessário compreender a mediação
social e estimular o Estado a não perder-se nas mediações e avançar em
suas finalidades políticas.
Daí que os textos desta obra, organizados a partir da Cátedra Prefeito
Celso Daniel de Gestão de Cidades, da Faculdade de Administração e Economia
da Metodista, recobrem os três pontos levantados e se fazem leitura
útil e produtiva para lideranças públicas locais/regionais. Sua ordenação inicial
os localiza tematicamente em três eixos, visíveis na ordem de leitura aqui
apresentada, a saber: 1. Cultura e participação social como elementos
inte-gradores (oito artigos); 2. Atenção a segmentos sociais vulneráveis e
integração das políticas (cinco artigos) e 3. Arranjo informacional e governabilidade
para a integração (cinco artigos).
Neles se apresentam estudos de território, com destaque para a reflexão
européia da Profa. Sandra Caeiro, da Universidade Aberta de Lisboa. Ali aprendemos
que não há caminho mais promissor, hoje, do que trabalhar as políticas
de desenvolvimento urbano a partir de estratégias holísticas (que chamamos de
integradas) e ações coordenadas por parte de toda a comunidade e suas instituições.
Tão importante quanto, surge a discussão do Plano Nacional de Recursos
Hídricos, realizada por Júlia Santos Silva, Daniel José da Silva e Janaina
Sant’ana Maia Santos, da Universidade Federal de Santa Catarina. Ao tratarem
do tema que envolve a humanidade, os pesquisadores lembram que tratados
assinados pelas nações exigem transparência, responsabilidade, eficiência e
participação no tratamento do grave problema da água. Tais valores podem,
sem dúvida, ser postos na base da construção de todas as políticas.
Na sequência, se fosse possível agrupar por áreas os textos abertos à
nossa leitura, teríamos a busca de intervenções planificadas, que compreende
planos diretores, a ação das organizações sociais e planos de recursos, o plano
nacional de recursos hídricos. As pesquisadoras Monica Hass, Myriam Aldana,
Rosana Badalotti e Jamile Prezzi, da Universidade Comunitária Regional de Chapecó (SC) mostram as mediações problemáticas e os esforços comunitários para a construção do Plano Diretor da cidade. Como se sabe, a primeira conquista de um projeto como esse é a da legitimidade social, por vezes posta
em disputa simbólica árdua. A memória do ciclo representado pelas organizações
sociais na experiência de alguns governos paulistas, especialmente
Mário Covas, é tratada aqui por Vera Schmidt. Envolvida no jogo político do
Estado, a experiência merece leitura política que a qualifique e permita comparação
com outras experiências. Um bloco de políticas participativas abre
caminho na reflexão dos pesquisadores: a experiência rural do Pronaf no
Paraná, sob metodologia de pesquisa-ação (Guilhermo Alfredo Johnson,
Flávio Ramos e Maria Cristina Crestani, da Universidade do Vale do Itajaí),
o hip hop em Diadema, fenômeno das identidades em movimento (Fátima
Vaz e Marília Godoy, das Universidades São Marcos e PUC) e o debate
inadiável do emprego e da renda, processo ocorrido em Santo André
(Jerônimo Almeida Neto e Sandro Renato Maskio). Os pesquisadores e as
pesquisadoras enfrentam as mediações da economia e das finanças, dos preconceitos
sociais mais ou menos encalacrados e do apagamento da voz que
vem do mundo rural e apresentam elementos de políticas integradoras, capazes
de alcançar uma visão mais antropológica (por isso integradora) da pessoa
e de sua comunidade. Do mesmo modo, visões críticas e propositivas encaram
temas fundantes da vida urbana: a saúde dos adolescentes, tratada por
Roberto Cacuro, da USP, Barbara Schwair e Gustavo Sarraf, da Université
Paris V, um novo rosto participativo para a cidade de Artur Nogueira, SP,
trabalho de Luiz Carlos Gonçalves, e a escola como lugar de construção da
esfera pública, texto de Eduardo Girotto. A leitura desse material científico
pode, no mínimo, subsidiar seminários, colóquios e encontros de agentes
públicos das nossas cidades. O cruzamento da reflexão crítica com a memória
da experiência pode engendrar, no local da ação, planos de trabalho, políticas
originais e inovadoras.
Há mais. Os processos de comunicação, de informação e a formação de
redes sociais são encarados por Roberto Gondo Macedo, Adilson Almeida,
Conceição Aparecida Sanches, Dalmo de Oliveira Sousa e Silva, Cloves Costa,
Anderson Rafael, Nascimento e Juliana Serzedello Lopes. Exceção feita a
Conceição, da Universidade Capital, os pesquisadores da Metodista analisam,
discutem e sugerem proposições no sentido de aumentar a visibilidade dos
moradores-cidadãos, ampliar as articulações sociais e garantir a importância
das tecnologias a serviço do bem-comum.
Empreendedorismo, política de gênero e o “mundo” do centro urbano
completam o espectro dos estudos, todos apresentados no Seminário Internacional
de Políticas Públicas, realizado em maio de 2008 na Metodista. Os pesquisadores
Marcos Aurélio Bernardes e Anderson Rafael Nascimento estudam a constituição de outro espaço público pelo advento das incubadoras de micro e pequenas empresas; Dagmar Pinto de Castro e Anderson Rafael Nascimento tratam de gênero e participação no interior da economia solidária. Não seria possível pensar em cultura solidária sem vencer as mediações alinhadas às estruturas
dominantes, que ainda humilham e subordinam as mulheres. Enfim,
para começar, Leonardo Mesentier mostra a relevância crescente que “a economia
da cultura e do lazer vem ganhando no mundo da produção…”
Abertos os textos, sugere-se vivamente sua leitura, posta à luz pela
Editora Metodista. Além dos demais valores apontados, viceja dentro deles
um sentido de militância na área da res publica. Certamente essa militância
não cega o espírito científico. Ao contrário, soma-se a ele para constituir uma nova racionalidade política, a qual, ao negar promessas e clientelismos, bem
como o modo pé-quebrado das gestões tradicionais nos municípios, exige o
direito à cidade para todos, hic et nunc.
Posição #32413 na lista de mais vendidos da Livraria 30porcento.
Dados Técnicos
Peso: 460g
ISBN: 9788578140809