Ao longo do rio - João Cabral e três poemas do Capibaribe

Descrição

Ao Longo do Rio: João Cabral e três poemas do Capibaribe é um caso que o crítico e a obra visada partilham qualidades análogas, seja pelo compromisso com a linguagem eleita, seja pelo campo dos valores éticos perseguidos. Isso ocorre, quando o discurso crítico de Alexandre Shiguehara se põe a seguir o curso de poemas narrativos de João Cabral. Sem pretensão imitativa, mas de fato atendendo a imperativos próprios, a linguagem do ensaio repercute os ganhos do que há de contido, lúcido e objetivo na poética cabralina, para compreender a dimensão histórica e dramática que há nesta.

O ensaísta (a meu ver, uma grata revelação de crítico) se pergunta como e até que ponto a “abordagem mais franca da matéria histórica introduz problemas novos para essa poesia”; quer saber como o rigor das matrizes formais dialoga, nos poemas “O cão sem plumas”, “O rio” e “Morte e vida severina”, com o que há de trágico na geografia humana e na história representadas.

Avaliando o impulso formador da poesia cabralina, Alexandre sonda esse problemático intento de comunicabilidade que não abre mão do rigor dos paradigmas. Na contramão da propalada “intransitividade” da linguagem de Cabral, deseja reconhecer as formas em que o ético e o estético, a experiência e o estilo se interpenetram. Sem esquecer a fortuna crítica do poeta, procede a uma investigação muito pessoal, em que avulta a capacidade de analisar os detalhes construtivos dos “poemas do Capiberibe” e de deduzir daí o quanto o decantado racionalismo do poeta engenheiro é também envolvimento narrativo nas cruezas da vida severina. Os bons leitores de poesia encontrarão nessas análises a prova de que a objetividade crítica não suprime a emoção poética, ao compreendê-la como forma a um tempo realizada e aberta.

No passo final, discreto e sugestivo como todos, o ensaísta coloca lado a lado os poemas narrativos de Cabral e o teatro épico de Brecht, irmanados ambos no direcionamento do olhar crítico do leitor para as cenas representadas. Creio que as leituras de poesia deste livro encarnam exemplarmente essa direção do olhar.

(Alcides Villaça)