Linguagem e Gozo, livro de Nina Vírginia de Araújo Leite, Suely Aires, Viviane Veras (Orgs.)

Linguagem e Gozo

assunto:
O conceito de gozo surge tardiamente na obra de Lacan – no Seminário 7: a ética da psicanálise (1959-1960) –, se o comparamos à precoce incidência da linguagem em sua teorização (1953). Inicialmente derivado da pulsão de morte freudiana, o conceito de gozo vem incluir-se como questão ao longo das formulações lacanianas, e insiste disseminado, trabalhado na língua. Apresentar uma reflexão sobre o gozo a partir de sua articulação com a linguagem implica, de imediato, um pressuposto: não há identificação do ser com o corpo. O ser falante tem um corpo pulsional que é constituído pela incidência... [Leia mais]
Descrição
O conceito de gozo surge tardiamente na obra de Lacan – no Seminário 7: a ética da psicanálise (1959-1960) –, se o comparamos à precoce incidência da linguagem em sua teorização (1953). Inicialmente derivado da pulsão de morte freudiana, o conceito de gozo vem incluir-se como questão ao longo das formulações lacanianas, e insiste disseminado, trabalhado na língua. Apresentar uma reflexão sobre o gozo a partir de sua articulação com a linguagem implica, de imediato, um pressuposto: não há identificação do ser com o corpo. O ser falante tem um corpo pulsional que é constituído pela incidência da linguagem no real do organismo. Deste modo, os caminhos do gozo estarão inarredavelmente atrelados aos efeitos do significante. Pensar o gozo no contexto dessa determinação levou Lacan a postular outra substância diversa daquelas apresentadas por Descartes: a substância gozante, na medida em que a substância do corpo é definida como aquilo de que se goza. Um corpo, isso se goza. Entretanto, se o gozo é materialmente determinado pelo significante, paradoxalmente é o próprio significante que vem fazer alto ao gozo, impondo a necessidade de refletirmos sobre a perda de gozo que a linguagem introduz. Na presente coletânea encontramos algo como uma caleidoscopia da relação entre linguagem e gozo, distribuída em quatro passagens temáticas: (1) na literatura, (2) outr arte, (3) na clínica e (4) na contemporaneidade.

Há livros para os quais é preciso ter orelha. Escutar é preciso. E é disso que falam os escritos aqui recolhidos. Trata-se mesmo de escutar, de ler em voz alta o que se escreve além dos sentidos, como gozo, em Joyce, Artaud, Woolf, Greenaway, Wolfson e tantos chamados a essa escuta de outros, de que palavra Pessoa, criando ritmos verbais, tocando o corpo das palavras. Há livros para os quais é preciso ter orelha.

Quanto à do livro, basta pensar uma vez para achar estranho escrever uma orelha, ou escrever nas orelhas. Para que servem, afinal? Viradas para dentro, tapadas, muitas vezes postadas na fresta em que a leitura se interrompeu? Mas um livro sem orelhas deixa sua capa sem dobras, sem lugar para a pulga que o poeta Drummond, lidando com coisas e palavras, deixa em seu Poema-orelha, orelha ou boca sequiosa de palavras?. E, embora a orelha pouco explique do livro, o poeta fia-se nela para recomendá-lo ao leitor. Há livros para os quais é preciso ter orelha.

Na orla, na margem, no beiral, as orelhas se abrem para que as vozes atravessem o livro e ressoem. Que o livro seja menos para entender e mais para espicaçar, para levar a becos sem saída, para contrariar nossos valores. Escutar é preciso. Ecos de Pessoa e de um escrito no folhear de Bernardo Soares: Apenas é compreensível dar bons conselhos aos outros para saber bem, ao agir o contrário, que somos bem nós, bem em desacordo. (Viviane Veras)

Dados Técnicos
Peso: 450g
ISBN: 9788575910702