Hegemonia às avessas, livro de Francisco de Oliveira, Ruy Braga e Cibele Rizek (orgs.)

Hegemonia às avessas

editora: BOITEMPO


Decifra-me ou te devoro!?, ameaçava a Esfinge os viajantes amedrontados, antes de recitar o mais famoso enigma da história. Na verdade, a hegemonia ?lulista? representa nossa incontornável esfinge barbuda?, aponta Ruy Braga, um dos organizadores de Hegemonia às avessas: economia, política e cultura na era da servidão financeira, lançado agora pela Boitempo. Nascido a partir do artigo homônimo, de Francisco de Oliveira incluído nesta edição o livro resulta de seminário promovido pelo Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da Universidade de São Paulo (Cenedic), no ... [Leia mais]
Descrição


Decifra-me ou te devoro!?, ameaçava a Esfinge os viajantes amedrontados, antes de recitar o mais famoso enigma da história. Na verdade, a hegemonia ?lulista? representa nossa incontornável esfinge barbuda?, aponta Ruy Braga, um dos organizadores de Hegemonia às avessas: economia, política e cultura na era da servidão financeira, lançado agora pela Boitempo. Nascido a partir do artigo homônimo, de Francisco de Oliveira incluído nesta edição o livro resulta de seminário promovido pelo Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da Universidade de São Paulo (Cenedic), no qual buscou-se analisar os fundamentos econômicos, políticos e culturais ?dessa forma sui generis de dominação social que se enraizou no país?, como define Braga na apresentação.

Em seu artigo, Oliveira apontava como, em mundo marcado pela crise capitalista e pelo colapso ambiental, o presidente brasileiro atingiu enorme prestígio ao absorver ?transformisticamente? forças sociais antagônicas dentro do Estado, desmobilizando as classes subalternas e os movimentos sociais. Carlos Nelson Coutinho segue a provocação do sociólogo para percorrer o caminho de seu diagnóstico, que verifica nesta conjuntura uma ?hegemonia da pequena política?, ?quando a política deixa de ser pensada como arena de luta por diferentes propostas de sociedade e passa, portanto, a ser vista como um terreno alheio à vida cotidiana dos indivíduos, como simples administração do existente?. A apatia torna-se um fenômeno de massa, inclusive teorizada como um fator positivo para a conservação da ?democracia?.

Como sintetiza Braga, Oliveira ?adiantou sua conjectura: no momento em que a ?direção intelectual e moral? da sociedade brasileira parecia deslocar-se no sentido das classes subalternas, tendo no comando do aparato de Estado a burocracia sindical oriunda do ?novo sindicalismo?, a ordem burguesa mostrava-se mais robusta do que nunca. A esse curioso fenômeno em que parte ?dos de baixo? dirige o Estado por intermédio do programa ?dos de cima? Chico chamou ?hegemonia às avessas??.

Trecho da obra

A longa ?era da invenção? forneceu a direção moral da sociedade brasileira na resistência à ditadura e alçou a questão da pobreza e da desigualdade ao primeiro plano da política. Chegando ao poder, o PT e Lula criaram o Bolsa Família, que é uma espécie de derrota do apartheid. Mais ainda: ao elegermos Lula, parecia ter sido borrado para sempre o preconceito de classe e destruídas as barreiras da desigualdade. Ao elevar-se à condição de condottiere e de mito, como as recentes eleições parecem comprovar, Lula despolitiza a questão da pobreza e da desigualdade. Ele as transforma em problemas de administração, derrota o suposto representante das burguesias ? o PSDB, o que é inteiramente falso ? e funcionaliza a pobreza. Esta, assim, poderia ser trabalhada no capitalismo contemporâneo como uma questão administrativa.

Já no primeiro mandato, Lula havia seqüestrado os movimentos sociais e a organização da sociedade civil. O velho argumento leninista-stalinista de que os sindicatos não teriam função num sistema controlado pela classe operária ressurgiu no Brasil de forma matizada. Lula nomeou como ministros do Trabalho ex-sindicalistas influentes na CUT. Outros sindicalistas estão à frente dos poderosos fundos de pensão das estatais. Os movimentos sociais praticamente desapareceram da agenda política. (Do artigo ?Hegemonia às avessas?, de Francisco de Oliveira)

Sumário

Apresentação e Homenagem
Ruy Braga

1. HEGEMONIA ÀS AVESSAS: DECIFRA-ME OU TE DEVORO!
Hegemonia às avessas
Francisco de Oliveira

A hegemonia da pequena política
Carlos Nelson Coutinho

2. TRABALHO E CAPITALISMO, ANTES E APÓS O DESMANCHE
O trabalho precário nos Estados Unidos
Arne L. Kalleberg

Trabalho e regresso: entre desregulação e re-regulação
Leonardo Mello e Silva

Política e arte na verdade e na ficção do trabalho: elementos para uma comparação história entre o Oriente socialista e o Ocidente capitalista
Yves Cohen

Capitalismo financeiro, estado de emergência econômico e hegemonia às avessas no Brasil
Leda Maria Paulani

3. CULTURA, CIDADE E SERVIDÃO FINANCEIRA
A cultura da servidão financeira: uma leitura às avessas
Maria Elisa Cevasco

Moedas e moedeiros (e um pintor na contramão)
Luiz Renato Martins

A renda da forma na arquitetura da era financeira
Pedro Fiori Arantes

Cidades para poucos ou para todos? Impasses da democratização das cidades no Brasil e os riscos de um ?urbanismo às avessas?
João Sette Whitaker Ferreira

Verde, amarelo, azul e branco: o fetiche de uma mercadoria ou seu segredo
Cibele Rizek

4. AMÉRICA LATINA E ÁFRICA DO SUL NA ENCRUZILHADA
A teoria da conjuntura e a crise contemporânea
Carlos Eduardo Martins

Construindo a hegemonia na América Latina: democracia e livre mercado, associações empresariais e sistema financeiro
Ary Cesar Minella

Que tipo de liderança é Chávez?
Gilberto Maringoni

A desorientação do ?Estado desenvolvimentista? na África do Sul
Patrick Bond

Do apartheid ao neoliberalismo
José Luís Cabaço

5. O SOCIALISMO APÓS O DESMANCHE
Reencontrando o comunismo da emancipação
Álvaro Bianchi

Política como práxis: Hegemonia às avessas, um exercício teórico
Wolfgang Leo Maar

O avesso do avesso
Francisco de Oliveira

Sobre os organizadores

Francisco de Oliveira, professor titular aposentado de Sociologia da USP, é autor de extensa obra, da qual destacamos Noiva da revolução: elegia para uma re(li)gião (São Paulo, Boitempo, 2008), Crítica à razão dualista: o ornitorrinco (São Paulo, Boitempo, 2003) e Os direitos do antivalor: a economia política da hegemonia imperfeita (Petrópolis, Vozes, 1998).

Ruy Braga, professor do Departamento de Sociologia da USP e diretor do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic) da USP, é autor, entre outros livros, de Por uma sociologia pública (São Paulo, Alameda, 2009), em coautoria com Michael Burawoy, e A nostalgia do fordismo: modernização e crise na teoria da sociedade salarial (São Paulo, Xamã, 2003).

Cibele Rizek, mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), doutora em Sociologia pela USP e livre-docente pela mesma instituição, é professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos ? USP. Coorganizadora dos livros A era da indeterminação (São Paulo, Boitempo, 2007) e France/Brésil: politiques de la question sociale (Caen, Presses Universitaires de Caen, 2000).




Dados Técnicos
Peso: 480g
ISBN: 9788575591642