Os últimos dias de Immanuel Kant, livro de Thomas De Quincey

Os últimos dias de Immanuel Kant

editora: AUTENTICA
assunto:
Tradução: Tomaz Tadeu

“Os últimos dias de Immanuel Kant”, de Thomas De Quincey (1785-1859), conhecido, sobretudo, pelos ensaios “Confissões de um comedor de ópio inglês” e “Do assassinato considerado como uma das Belas Artes”, foi publicado pela primeira vez em fevereiro de 1827, no Blackwood’s Magazine, sob a rubrica “Galeria dos Clássicos da Prosa Alemã, pelo Comedor de Ópio Inglês”, e reproduzido, com mudanças consideráveis, em 1854, no terceiro volume da primeira edição de suas obras completas.

Na verdade, como adverte desde o início o próprio De Qui... [Leia mais]
Descrição
Tradução: Tomaz Tadeu

“Os últimos dias de Immanuel Kant”, de Thomas De Quincey (1785-1859), conhecido, sobretudo, pelos ensaios “Confissões de um comedor de ópio inglês” e “Do assassinato considerado como uma das Belas Artes”, foi publicado pela primeira vez em fevereiro de 1827, no Blackwood’s Magazine, sob a rubrica “Galeria dos Clássicos da Prosa Alemã, pelo Comedor de Ópio Inglês”, e reproduzido, com mudanças consideráveis, em 1854, no terceiro volume da primeira edição de suas obras completas.

Na verdade, como adverte desde o início o próprio De Quincey, seu memorial é uma tradução livre e “enriquecida” do livro Immanuel Kant in seinen letzten Lebensjahren (1804), de autoria de Ehrgott Andreas Christoph Wasianski (1755-1831), discípulo e um dos amanuenses de Kant, advertência que é reforçada, em nota de rodapé, pelo organizador de suas obras completas, David Masson: “O sentido substancial do que se segue, embora em grande parte traduzido do livro de Wasianski, constitui uma condensação, no estilo próprio de De Quincey e com acréscimos de sua própria autoria, de informações extraídas de várias fontes alemãs”.

O relato dos últimos dias de Kant, na versão de De Quincey, tornou-se conhecido entre nós sobretudo através de Jorge Luis Borges, que tinha grande estima por De Quincey e, em particular, pelo memorial sobre Kant, que incluiu em sua “Biblioteca Pessoal”: “Thomas de Quincey [...] é essencial para mim. Li e reli as ‘Confissões de um comedor de ópio inglês’, um dos textos mais tristes do mundo. [...] Em ‘Os últimos dias de Immanuel Kant’, vemos um homem de grande inteligência, um homem de gênio, desmanchando-se aos poucos diante dos olhos do leitor [...]. Penso que seja um dos melhores textos de De Quincey” (Yates, 1976, p. 150). Borges não via nenhum problema no método da tradução “enriquecida” empregado por De Quincey. Muito pelo contrário. Nessa mesma entrevista, referindo-se a uma outra tradução do alemão feita por De Quincey, Borges comenta: “Percebo que De Quincey enriquece o tema o tempo todo, porque ele afirmava que o de que menos gostava nos [autores] alemães era que eles raramente utilizavam exemplos. Quer dizer, eles simplesmente dão a você um enunciado abstrato e o exemplo fica por sua conta. Mas ele trabalhava com exemplos, e uma prosa árida como a de Lessing se transformava na maravilhosa prosa de De Quincey” (Yates, 1976, p. 150).

As “criativas” traduções de De Quincey não se limitavam à ampliação dos detalhes. Ele as moldava ao seu próprio estilo, feito de sentenças longas e profusamente intercaladas. Um estilo “labiríntico”, na apreciação de Borges. É notável também o método de colagem utilizado por De Quincey na composição de “Os últimos dias”, método que parece ter influenciado os procedimentos estilísticos do próprio Borges, como destaca Monegal (apud Costa, 2005, p. 42): “Nesse texto, Jorge provavelmente descobriu outro importante aspecto da escrita de De Quincey. Ao narrar os últimos dias de Kant, o escritor inglês criou um único texto, partindo de narrações de diversas testemunhas [...], mas, em vez de indicar a fonte em cada caso, preferiu apresentar essa collage de textos como uma única narração atribuída a Wasianski, para obter unidade literária”.

Mas a admiração de Wasianski por Kant, principal fonte do texto de De Quincey, estava longe de ser partilhada por esse último. Num outro texto, De Quincey torna clara sua pouca simpatia pela filosofia transcendental kantiana: “Em Kant, fizeram-me acreditar, residiam as chaves de uma nova e criativa filosofia. [...] Que pena!, tudo não passou de um sonho. [...] Descobri que a filosofia de Kant é uma filosofia de destruição. [...] [Trata-se de] um esquema de especulação que não oferece nada de sedutor para a imaginação humana, nem sequer nada de positivo e afirmativo para o entendimento humano [...].” (De Quincey, 1890,p. 86).

Embora essas restrições à obra de Kant não estejam evidentes no texto ora traduzido, pode-se perceber aqui e ali alguma ponta de ironia, em particular sobre os curiosos métodos sanitários do filósofo alemão, tal como nesta nota sobre os seus males digestivos: “Para essa queixa particular de Kant, tal como descrita por outros biógrafos, um quarto de um grão de ópio, a cada oito horas, teria sido o melhor remédio, talvez um remédio perfeito”.

Como se vê, Kant e De Quincey não pareciam dar boa mistura. O que não impede que apreciemos, como fez Borges, essa mistura especial: De Quincey com Wasianski.
(da Apresentação de Tomaz Tadeu)

Dados Técnicos
Peso: 250g
ISBN: 9788575265178