Comunicados Lacônicos

Descrição

O risco de se comentar um livro com este, polvilhado de substâncias inflamáveis e concentradas como uma bala, é banalizá-lo, dissovendo sua energia em provável assepsia crítica. Pois Lizárraga é das famílias dos crópios, não hesita em trocar a repartição pública pelo aprque de diversões, dribla limites e não se entrega nunca, mesmo quando o dia reinicia as hostilidades sem aviso prévio. Como afirmou em "Legionários da Vila Buarque", "resistirei até o último cartucho". A munição? Linguagem desabusada daqueles que mesmo desumanizados ("sintéticos"), compreendem e lutam até o fim contra o que se chama "as leis do sistema".

Mas este não é o único registro. A ele se mistura liricamente as inscrições da memória, instantes ou paisagens percebidos num relance pelo viajante, retomando um tempo de mão-dupla para a criação em liberdade, isto é, a infância.

É a força dessas imagens que de saída perturba o leitor. Elas não só pretendem às vezes se impor pela violência e necesidade de convencer ou denunciar, chegando ao grotesco ("nas sombras da praia aluga-se o fedor do arco-íris manufaturado"), mas também desempenham vários papéis contraditórios: em certos momentos são usadas para controlar sentimentalidades ou, pelo contrário, para potencializar diferenças, afirmando a crítica.