Ruídos Urbanos, livro de Moacyr Godoy Moreira

Ruídos Urbanos

editora: ATELIE
Nada é íntegro hoje. Tudo está partido. Estes são tempos de fragmentos, de cacos, de estilhaços, de pedaços. Sempre se é parte elidida de algo, por vezes sem sentido: galho flutuante num rio, cisco de vento nos olhos. Mas existem os colares de contas de vidro, como bem nos lembram os hindus. São contas de vidros coloridos, silenciosas e sem brilho quando solitárias. Basta, no entanto, pegar um fio de nylon e dispor essa ao lado daquela para que, ao toque do encontro, o som sibile e uma se reflita no espelho da outra, ganhando ambas o luzir que não exibiam. Assim são os Ruídos Urbanos, d... [Leia mais]
Descrição
Nada é íntegro hoje. Tudo está partido. Estes são tempos de fragmentos, de cacos, de estilhaços, de pedaços. Sempre se é parte elidida de algo, por vezes sem sentido: galho flutuante num rio, cisco de vento nos olhos. Mas existem os colares de contas de vidro, como bem nos lembram os hindus. São contas de vidros coloridos, silenciosas e sem brilho quando solitárias. Basta, no entanto, pegar um fio de nylon e dispor essa ao lado daquela para que, ao toque do encontro, o som sibile e uma se reflita no espelho da outra, ganhando ambas o luzir que não exibiam. Assim são os Ruídos Urbanos, de Moacyr Godoy Moreira, no colar de retratos da cidade-mundo. Numa conta de vidro, ouvimos o ruído das engrenagens a massacrar os delicados. Noutra, o bramido pluvimedonho das águas drummondianas. E nessa, o rilhar dos trilhos do metrô nos pés de seus perpétuos passageiros. Outras rumorejam com o grito das facas dos pequenos crimes, com o baque canoro dos ossos, o som das moedas na partilha das vidas, o suspiro dos párias, o sussurro dos resignados, o cicio dos mentirosos, o abraço calado dos corpos no instante do amor, os gestos mudos das faxineiras, os diálogos faiscantes entre pais e filhos. E há ainda as contas que curto-circuitam de desencanto, as que urram de dor, as que acolhem maciamente as nuvens. E eis que, cada uma dessas contas, aparentemente de vidrilhos, se isoladas, tornam-se cristais aqui, reunidas nessas folhas móveis. São óleo para as máquinas, sim. Mas também perfume para a sensibilidade. E luz para os olhos. Luz que Enio Squeff extraiu das palavras - e também da sombra delas - de Moacyr Godoy Moreira, e apreendeu nos belos desenhos que ilustram esses 65 microcontos. São 65 fragmentos que, agora, fazem todo sentido. À semelhança de um colar de contas de vidro, emitem ruídos e cintilam. Músicas para o nosso coração. Lentes novas para a nossa miopia. - João Anzanello CarrascozaMoacyr Godoy Moreira é escritor, redator de teatro, tradutor e médico. Publica semanalmente crônicas e resenhas na seção "Arte do Tempo" do site www.agenciacartamaior.com.br. Pela Ateliê, publicou também Lâmina do Tempo e República das Bicicletas.

Dados Técnicos
Peso: 452g
ISBN: 9788574803913