O Inominável, livro de Samuel Beckett

O Inominável

O inominável, escrito em 1949, é o último romance da famosa “trilogia do pós-guerra” beckettiana, formada ainda por Molloy (1947) e Malone morre (1948). Ser do pós-guerra e ser beckettiana determinam as características particulares da trilogia, e em especial de O inominável.
A obra de Beckett nasce em pleno “pesadelo da história” que refere Joyce (de quem Beckett foi secretário particular). Neste caso, um denso pesadelo de meio século, começando pela noite escura da I Guerra, passando pela Grande Depressão e o nazifascismo, para atingir seu auge na noite ainda mais negra da II Guerra (... [Leia mais]
Descrição
O inominável, escrito em 1949, é o último romance da famosa “trilogia do pós-guerra” beckettiana, formada ainda por Molloy (1947) e Malone morre (1948). Ser do pós-guerra e ser beckettiana determinam as características particulares da trilogia, e em especial de O inominável.
A obra de Beckett nasce em pleno “pesadelo da história” que refere Joyce (de quem Beckett foi secretário particular). Neste caso, um denso pesadelo de meio século, começando pela noite escura da I Guerra, passando pela Grande Depressão e o nazifascismo, para atingir seu auge na noite ainda mais negra da II Guerra (da qual Beckett participou junto à Resistência Francesa). O que levaria Adorno a decretar a própria impossibilidade de ainda se fazer poesia. Ao mesmo tempo, do lado da filosofia, os questionamentos modernos e o fim das certezas clássicas afinal levariam à declaração de Wittgenstein: “o que não sei dizer, devo calar”. É essa impossibilidade, ou seja, a falência da linguagem em dar conta de uma realidade, digamos, inominável, que está na origem dos silêncios significantes de Beckett em seu teatro. Em seus romances, porém, Beckett adotaria uma estratégia linguística oposta. Falaria — ainda que sobre a impossibilidade de dizer.
Como diz, aliás, o prefácio, de João Adolfo Hansen: “[O inominável] põe em cena uma voz anônima que, emitida de algum lugar na linguagem, começa com algumas generalizações: admite que parece falar, dizendo eu sem se perguntar ou pensar quem ou quê é. Diz que não fala de si mesma e que fará aparecer personagens, títeres, objetos, fatos e outros trastes necessários em narrativas, que logo eliminará. Não reconhece nenhuma instância em que possa investir-se para inventar a identidade imaginária do sujeito de seu ato de fala. Avança por aporias, afirmações e negações simultâneas, invalidadas à medida que se formulam. As aporias dão continuidade verossímil à incerteza do seu monólogo, constituindo o presente do leitor com os vazios das significações eliminadas. [A] voz está cansada. Não disso ou daquilo, mas da condição humana, do seu lugar na linguagem, obrigada a continuar falando com palavras de Outro, ‘o mestre’, como diz, repetidas na língua morta das palavras dos vivos, os outros, ‘os homens’: — O que é possível saber? — O que é possível fazer? — O que é lícito esperar? Cansada dessas e de outras questões, fala para eliminá-las”.
Se o vazio do mundo não permite dizê-lo, o vazio de si não permite calar-se. No caminho contrário do silêncio significativo de seu teatro, trata-se, nos romances de Beckett, de um ruído (quase) significante. A verdadeira “ação”, em todo caso, está aqui na própria linguagem — ainda que se trate de fazê-la comunicar a incomunicabilidade moderna.

Dados Técnicos
Páginas: 208
Peso: 322g
ISBN: 9788525046406