O verão de 1850 foi um divisor de águas na história da saúde pública no Brasil. Uma violenta epidemia de febre amarela irrompeu em várias cidades costeiras, matando dezenas de milhares de pessoas em poucos meses. Uma crise de saúde pública dessa proporção tende a abalar estruturas, a tornar incerto o futuro da sociedade. O tráfico africano de escravizados cessou logo depois, por motivos vários, entre eles, a hipótese de que a doença era originária da África. O destino da escravidão entrava em jogo enquanto a febre amarela dava ao país a reputação de “matadouro” de imigrantes europeus.
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Descrição
O verão de 1850 foi um divisor de águas na história da saúde pública no Brasil. Uma violenta epidemia de febre amarela irrompeu em várias cidades costeiras, matando dezenas de milhares de pessoas em poucos meses. Uma crise de saúde pública dessa proporção tende a abalar estruturas, a tornar incerto o futuro da sociedade. O tráfico africano de escravizados cessou logo depois, por motivos vários, entre eles, a hipótese de que a doença era originária da África. O destino da escravidão entrava em jogo enquanto a febre amarela dava ao país a reputação de “matadouro” de imigrantes europeus.
No ano seguinte aparecia História e descrição da febre amarela epidêmica que grassou no Rio de Janeiro em 1850, de José Pereira Rego, futuro barão do Lavradio, médico jovem que se tornaria a principal personagem da administração da saúde pública no país ao longo do Segundo Reinado.
História e descrição é testemunho fascinante de como os médicos do período enfrentaram uma doença que não sabiam como se propagava e para a qual não conheciam tratamento eficaz. A cidade tinha uma estrutura de atendimento insuficiente, nem mesmo conseguia enterrar os seus mortos no ritmo imposto pela peste. Foram proibidos os enterramentos nas igrejas, porém, a população resistia aos cemitérios. Era o caos em meio ao sofrimento.
Em 2020, a circulação máxima de mercadorias e de pessoas, assim como o seu corolário virtual, a comunicação instantânea sem fronteiras, lançou o planeta inteiro num pesadelo distópico. Por um tempo, tudo parecia parado ou prestes a parar. Sofrimento, mortes, incerteza, futuro abolido, experiências tornadas mais dramáticas pela rapidez das mensagens virtuais. O historiador Sidney Chalhoub, responsável pela indicação e pelo posfácio do livro, pergunta: o que o velho barão do Lavradio e sua luta num mundo que vivia outra crise cataclísmica — o fim da escravidão — teriam a dizer-nos? As epidemias de febre amarela daquele tempo dramatizaram a transformação histórica que levaria ao fim de uma das mais atrozes instituições da história da humanidade. Como a atual pandemia nos desafia, que futuro ela nos insta a construir?
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