Um delírio de porão, livro de Riba de Castro

Um delírio de porão

O que Tetê Espíndola, Itamar Assumpção, os grupos Rumo, Titãs, Ultraje a Rigor, Premê, Paranga e Língua de Trapo têm em comum? Pelo menos uma coisa: o teatro Lira Paulistana. Todos vivenciaram sua primeira vez ou grandes momentos, em São Paulo, no Lira Paulistana.

A esse pessoal todo, podem se somar muitos outros artistas – alguns deles já muito famosos, na época, como Jorge Mautner, Jards Macalé e Tom Zé – que se apresentaram, não pela primeira vez, mas com o mesmo espírito de criação, de ineditismo, no porão mais famoso de São Paulo, no início dos anos 1980, um depósito de... [Leia mais]
Descrição
O que Tetê Espíndola, Itamar Assumpção, os grupos Rumo, Titãs, Ultraje a Rigor, Premê, Paranga e Língua de Trapo têm em comum? Pelo menos uma coisa: o teatro Lira Paulistana. Todos vivenciaram sua primeira vez ou grandes momentos, em São Paulo, no Lira Paulistana.

A esse pessoal todo, podem se somar muitos outros artistas – alguns deles já muito famosos, na época, como Jorge Mautner, Jards Macalé e Tom Zé – que se apresentaram, não pela primeira vez, mas com o mesmo espírito de criação, de ineditismo, no porão mais famoso de São Paulo, no início dos anos 1980, um depósito de ferragens transformado em teatro, na rua Teodoro Sampaio, 1.091, em frente à praça Benedito Calixto, no bairro de Pinheiros.

Mas o Lira não foi “só” um teatro. Foi muito mais. Um jornal pioneiro com a programação cultural da cidade, uma gravadora, uma editora e também um reduto de militância musical e política. Era aberto a todo tipo de arte, inclusive cinema.

Foi lá que vi e ouvi pela primeira vez e me apaixonei por todo esse pessoal já citado. Toda vez que me lembro do Lira, lembro-me também do título de um filme brasileiro, A Lira do Delírio, que vi pela primeira vez no Lira Paulistana. Não tem nada a ver uma coisa com a outra, é que eu achava que o Lira Paulistana era um mesmo delírio permanente, naquela época em que a ditadura esperneava para não acabar e que a Vila Madalena começava a deixar de ser uma “periferia de Pinheiros”.

O agito não parava, era cotidiano. Parecia que estávamos no meio de uma revolução, pois, como dizia Che Guevara, “quando o extraordinário se torna cotidiano, é a revolução”. E, enquanto coisas extraordinárias aconteciam na política – entre elas a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) –, nós, em Pinheiros e adjacências, vivíamos também um extraordinário momento musical, com o surgimento de muita gente boa na música, muitas inovações, muita qualidade, aqui pertinho de nós.

Sempre pensei que devia existir um livro registrando a existência do Lira Paulistana escrito por um dos seus criadores, e agora tenho o prazer de ver isso acontecendo, como uma espécie de autobiografia dele, pois Riba e Lira para mim se confundem, são uma coisa só, uma “pessoa” só, agitada, anárquica e anarquista. O Lira foi-se, acabou, e a outra parte dele, o Riba, ficou resistindo com sua criatividade libertária, militante, humanista. Em outro porão, na Vila Madalena, pertinho do Lira, ele criou o Estúdio Pirata, que, usando uma palavra dos tempos atuais, poderia se autodenominar de “multiarte”, onde esbanjava criatividade.

Depois, foi para Barcelona e, em seguida, para Madri, mas continuou com suas criações e não deixou de ser um guardião da história e de uma farta documentação do Lira, que transformou agora em mais uma criação, um livro que me emociona. Além do texto, cada cartaz, cada foto, me faz viajar no tempo, relembrar velhas lutas, velhas diversões, velhas alegrias.

Enfim, para quem viveu o Lira, este livro é um monte de boas lembranças, de saudade. Para quem não viveu, as histórias do Lira serão, certamente, motivo para dizer: “Pena que eu não estava lá”.

Mouzar Benedito (Apresentação)

Dados Técnicos
Páginas: 208
Peso: 1010g
ISBN: 9781234657880