Descrição
O Ocaso da Ditadura – O Caso Herzog, da editora Barcarolla, não é mais um livro sobre a
tortura e a morte do jornalista Vladimir Herzog. Com base em intensa pesquisa, entrevistas e
estudos empreendidos sobre os últimos 30 anos, o historiador Mário Sérgio de Moraes traz
informações inéditas e demonstra a importância da reação ao assassinato do jornalista para o
processo de redemocratização do Brasil e retomada do conceito de cidadania. Apresentado
originalmente como tese de doutorado em História Social pela Universidade São Paulo.
Primeira obra produzida por um historiador sobre o Caso Herzog, o livro de Mário Sérgio de
Moraes lança o olhar para o papel de outros atores e protagonistas do movimento que
culminou no processo de redemocratização do país. “Havia duas redes sociais democráticas na
cidade de São Paulo: a da periferia, coordenada pela Igreja Católica progressista; e a principal,
da classe média intelectualizada. O Caso Herzog foi o catalisador destes movimentos sociais”,
conta o autor.
Doutor em História Social, pesquisador do Grupo Laboratório de Estudos sobre a Intolerância
(USP) e professor titular em Cultura Brasileira da Universidade de Mogi das Cruzes e de
Realidade Brasileira na Faap, Mário Sérgio é irmão do juiz Márcio José de Moraes, responsável
pelo parecer favorável à ação declaratória promovida pela viúva Clarice Herzog e os filhos de
Vlado, em 1976, contra o Estado – uma decisão até então inédita na jurisprudência brasileira e
que abriu caminho para que outros familiares de desaparecidos e presos políticos também
ingressassem na Justiça pedindo explicações por violências praticadas.
Desde o começo do governo Geisel o autor colecionou vasta documentação – jornais,
periódicos clandestinos, folhetos, charges, livros, letras de música, artigos etc. – para manter a
memória sobre 1975. “A minha preocupação, já naquele momento, era não somente
documentar os crimes, mas ficar atento a um possível futuro de esquecimento dos fatos
fundamentais, de supressão dos vestígios autoritários, por parte dos grupos sociais que
apoiaram tantas atrocidades.”
Entre as revelações, ele ressalta o isolamento, o temor, a opressão e as dificuldades que a
oposição e a sociedade enfrentavam na época. Nos primeiros dias após o assassinato do
jornalista, nenhum sindicato operário, nem mesmo o Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo do Campo, então presidido por Luis Inácio Lula da Silva, manifestou solidariedade.
Dos 23 Sindicatos de Jornalistas existentes na época no país, apenas seis apoiaram a
movimentação em São Paulo.
No prefácio, o historiador Prof. Dr. Francisco Carlos Teixeira da Silva, da Universidade do
Brasil, Rio de Janeiro, ressalta a coragem da decisão de escrever o livro e comenta a soma de
todas as condições que contribuíram para o destino de Vlado: “A história do tempo presente –
de recorte político, de viés antropológico, com ferramentas tomadas à psicologia e à sociologia
– foi uma resposta a esta aniquilação estruturalista do homem na história. Muitos – e este é
aqui o caso de Vladimir Herzog – várias vezes pegos de surpresa pelas circunstâncias da
história, de sua história e da história de milhares de outros homens. Judeu, progressista, antifascista, europeu e brasileiro somava, em todas estas circunstâncias, uma incorrigível vocação
à resistência contra a opressão e a injustiça social. Vlado se encontrou com tudo aquilo que
era, por sua própria natureza, o contrário das circunstâncias de um homem livre.”
O culto ecumênico realizado na Catedral da Sé em de outubro de 1975, considerado a primeira
grande manifestação de repúdio à ditadura militar pós AI-5, também é relembrado como um
marco, e da mesma forma, a influência de D. Paulo Evaristo Arns: “O ódio principal dos
militares era dirigido principalmente contra o discurso dos Direitos Humanos, na figura de D.
Paulo. Ele era acusado pelos interrogadores de ser o agente da subversão.” Por outro lado, os
agentes de segurança acusavam o governo e diziam que se o presidente Geisel insistisse na
distensão seria derrubado.
Com esses e muitos outros fatos, a obra remonta o momento histórico em torno deste
emblemático episódio envolvendo a morte do jornalista e a reconstrução do processo de
mobilização pela democratização do Brasil desde sua fase germinal. O caso e o seu contexto
histórico-social são abordados de maneira precisa e diferenciada. Portanto, não se trata de
mais um livro sobre o caso Herzog, mas de um retrato de toda a mobilização gerada neste
período.
Capítulos
No primeiro capítulo intitulado “Vladimir Herzog e a informação democrática” há uma
contextualização histórica das forças sociais em jogo, mostrando a abertura como fruto da crise
do modelo econômico, as eleições de 1974, a atuação do MDB, o papel da imprensa como o campo de visibilidade da luta e a ação dos jornalistas que criticavam a abertura proposta pela
ditadura. E, neste quadro social, o autor reconstitui a trajetória intelectual de um dos
personagens principais, Vladimir Herzog, e sua concepção sobre a informação pública.
No segundo capítulo, “A ação desesperada dos militares”, ele expõe o que foi a Operação
Jacarta, com a campanha de perseguições políticas sobre o Partido Comunista Brasileiro e a
“caça às bruxas” dentro da Policia Militar de São Paulo, que culminou com a morte do tenente
José Ferreira de Almeida. Depois, a repressão generalizada sobre diversos grupos da
sociedade civil e a morte de Vladimir Herzog.
No terceiro capítulo, aparecem as “redes democráticas” e os novos personagens sociais que
surgiram, organizados ou não. Apresentando seus respectivos discursos. O papel da Igreja
progressista em São Paulo e a influência das idéias da “frente ampla”, propugnada pelo Partido
Comunista Brasileiro, sobre outros grupos sociais. Mário Sérgio enfatiza a mobilização da
sociedade no Caso Herzog e defende a tese que ela foi fruto da construção de redes de
solidariedade, nascidas na periferia da cidade de São Paulo e nos setores intelectualizados da
classe média.
No quarto capítulo, “As representações da cidadania”, ele evidencia como tal conceito
renasceu, ampliou-se e se multiplicou com diferentes conotações na morte do jornalista. No
quinto capítulo, “A sentença democrática”, analisa como o crime repercutiu dentro do Poder
Judiciário e seu sentido na sociedade brasileira.
Na conclusão, “Os sentidos da Tolerância e da Cidadania”, o foco é o tema da Tolerância
relacionado ao conceito da Cidadania e Direitos Humanos. E da tortura numa linha
retrospectiva e prospectiva para responder qual conceito de Cidadania foi hegemônico na luta
de classes sociais, seu alcance e suas potencialidades.
Dados Técnicos
Peso: 290g
ISBN: 8598233277