Arquivo da tag: psicanálise

Literatura

O que se pode saber de um homem

9 fevereiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“Flaubert representa, para mim, exatamente o contrário da minha própria concepção da literatura: um alienamento total e a procura de um ideal formal que não é, de modo algum, o meu…” – Sartre.

 

– Caricatura de Flaubert, por Eugène Giraud

A última obra escrita por Sartre, O idiota da família, é um verdadeiro monumento. Publicado em três volumes, aos quais se seguiria ao menos mais um, rascunhado, porém inacabado pelo avanço da cegueira e de problemas de saúdes do filósofo, trata-se de um profundo e abrangente estudo sobre a vida e obra de Flaubert, através de um método investigativo que articula existencialismo, psicanálise e crítica literária. É, pois, considerado síntese de todo o pensamento filosófico sartreano.

À época da publicação do primeiro volume, Sartre, indagado sobre a natureza de seu interesse por Flaubert, disse que o escritor representava seu avesso e que era justamente este o motivo de sua admiração. O filósofo reconstrói os fundamentos psicológicos de Flaubert a partir de reflexões sobre seu meio familiar, entre uma mãe fria e um pai autoritário. O título, Sartre explica: “Uma testemunha conta que o menino aprendeu a ler muito tarde e que seus familiares o tinham então por criança retardada”Continue lendo

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matraca

O tempo vazio 

13 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

fotografia de Nuno Ramos

Em O tempo e o cão – a atualidade das depressões, a psicanalista Maria Rita Kehl investiga uma hipótese: a de que a depressão seja um sintoma social contemporâneo. O livro, que ganhou o Prêmio Jabuti de 2010, ao longo de seus três ensaios analisa a relação subjetiva da depressão com o tempo e com a temporalidade, dialogando com conceitos filosóficos de Henry Bergson e Walter Benjamin.

O texto de Kehl é acessível, profundo e pertinente. Segundo a autora, “Freud privatizou o conceito de melancolia; seu antigo lugar de sintoma social retornou sob o nome de depressão”. Para ela, o atual aumento das depressões demonstra-se sintoma social, uma vez que, em desacordo com a normatividade social, denuncia as contradições de uma época.

Para analisar os depressivos em relação ao discurso social, Maria Rita Kehl pormenoriza alguns desdobramentos práticos de aspectos das condições de manutenção desse discurso, como a relação de urgência e produtividade com o tempo, a fragmentação da experiência narrativa, a efemeridade das vivências, o consumismo, o enaltecimento da fantasia de autoengendramento e desvinculação com as gerações antepassadas.  Continue lendo

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Literatura

Por entre miudezas

6 outubro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Escher

Tomo conta do mundo: confissões de uma psicanalista, de Diana Corso, acaba de ser lançado pela Arquipélago Editorial.

O livro atravessa pequenos detalhes e sutilezas do comportamento humano, em crônicas e contos que pensam o inconsciente a partir do cotidiano, e vice-versa. A autora fala sobre as novas configurações familiares, a miragem do corpo perfeito, as cicatrizes da idade, o encanto selvagem das metrópoles.

A publicação traz uma compilação de textos publicados no jornal Zero Hora e nas revistas TPM e Vida Simples, que perpassam uma obsessão: o tema da feminilidade. Figura no volume também o ensaio “Sem medo de Virgínia Woolf”, escrito especialmente para o livro, no qual as personagens woolfianas conduzem uma reflexão sobre a busca das mulheres por um lugar no mundo para si próprias.

A palavra “conficcional”, presente no título do livro, é um neologismo proposto pelo poeta e cronista Fabrício Carpinejar para justapor o confessional e o ficcional.  Continue lendo

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