Arquivo da tag: Márcio Suzuki

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Filosofia do bom humor

30 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

El Greco, “Alegoria com menino acendendo vela na companhia de um macaco e de um tolo”

David Hume fala da “agradável melancolia” necessária ao estudo filosófico. O tédio, a melancolia, o bom humor são algumas das questões que embasam a chamada “arte de viver”, e que permeiam noções estéticas, morais e políticas de todo o Iluminismo. É o que o professor Márcio Suzuki, em A forma e o sentimento do mundo, lançado pela editora 34 no final do ano passado, investiga, com sua peculiar prosa ensaística, erudita e original.

Em sua análise, aborda filósofos como David Hume, Adam Smith, Francis Hutcheson, Adam Ferguson, Immanuel Kant, bem com escritores como Laurence Sterne. Suzuki mostra como suas ideias filosóficas englobam usos práticos e morais de atividades como a conversação, o jogo, a caça, e todas as formas de “distração”, de preenchimento do tempo destinado ao ócio em geral. As formas de humor, de diversão, de devaneios e de atividades que estimulam o lúdico, ainda que não tenham utilidade prática imediata, são ricas aberturas à criatividade e vias de um filosofar estimulante.

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Da sobrevivência dos deuses

6 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

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Nos anos em que viveu em Paris, Heinrich Heine escreveu uma série de trabalhos sobre a mitologia pagã, através dos quais rastreou os vestígios da sobrevivência dos deuses antigos na história do ocidente. Um desses trabalhos é a sequência de narrativas Os Deuses no Exílio, que elucubra sobre o destino das divindades antigas depois do surgimento do cristianismo.

Heine apropriou-se de diversos materiais históricos, narrativas e mitos, lendas recolhidas pelos irmãos Grimm ou sagas populares suecas – destas, três encontram-se traduzidas neste volume e uma dão ideia do modo como a mitografia heiniana reelabora as fábulas antigas: utiliza criativamente suas fontes, reinventando-as.

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Aos espíritos livres

1 abril, 2014 | Por Isabela Gaglianone

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Mais que uma coletânea panorâmica do pensamento de Friedrich Nietzsche, este volume abarca uma compreensão da obra do filósofo. Os textos, selecionados por Gérard Lebrun, saudoso professor do Departamento de Filosofia da USP, respondem a duas questões: por que e como ler Nietzsche. Há, afinal, uma maneira “lebruniana” de trabalhar a filosofia de Nietzsche, como bem analisou o professor Ivo da Silva Júnior em artigo publicado nos Cadernos Nietzsche: para Lebrun, “não se tratava de pensar a partir de Nietzsche ou com ele as questões da contemporaneidade. Tratava-se de avaliar os tempos atuais por meio da História da filosofia. Nada mais indicado então que a filosofia de Nietzsche para fornecer os “instrumentos” para esse trabalho avaliativo”. Este volume das Obras incompletas, além da cuidadosa seleção de textos, conta com a precisa tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho, prefácio e revisão técnica de Márcio Suzuki, além de posfácio de Antonio Candido. Um time de peso intelectual incomparável faz, desta edição, portanto, uma pequena joia editorial.

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Um belo sentido à escrita

21 fevereiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“O poeta está mais próximo do mundo quando carrega em seu íntimo um caos; no entanto, e este foi nosso ponto de partida, sente responsabilidade por esse caos – não o aprova, não se sente bem com ele, não se crê importante por ter em si espaço para tanta coisa contraditória e desconexa, mas odeia o caos e não perde jamais a esperança de dominá-lo em prol dos outros e de si mesmo. Para dizer algo sobre este mundo que tenha algum valor, o poeta não pode afastá-lo de si ou evitá-lo. Tem de carregá-lo em si enquanto caos, a despeito de todas as metas e planejamentos, pois o mundo se move com velocidade crescente rumo à própria destruição. […] Contudo, não se pode permitir sucumbir ao caos, mas, a partir justamente da experiência que dele possui, precisa combatê-lo, contrapondo a ele a impetuosidade de sua esperança”.

– Do ensaio “O ofício do poeta”.

  

Elias Canetti, prêmio Nobel de Literatura de 1981, foi um dos escritores mais influentes do século XX. Além do premiado romance Auto-de-Fé, escreveu magníficos ensaios, como o denso trabalho de teoria social Massa e Poder – considerado, ao lado de Auto-de-fé, uma das obras magnas das letras no século XX –, ensaios político-literários extremamente lúcidos, como A consciência das palavras e, Continue lendo

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