Arquivo da tag: José Paulo Paes

Crítica Literária

Textos conversas

5 agosto, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O trabalho ensaístico de José Paulo Paes é tão preciso quanto sua poesia. Organizada pela escritora Vilma Arêas, a reunião de alguns dos ensaios de Paes, neste volume, intitulado Armazém literário, trouxe aos leitores a possibilidade de encontrar textos tocantes cujos livros de publicação original há muito estão esgotados no mercado brasileiro. Com prosa fluente e elegante, Paes lida com assuntos graves a partir de autores como Machado de Assis, William Blake ou Simone Weil, ou então, utilizando toda a liberdade da forma ensaística, reflete sobre o ofício de poeta e sobre sua própria “linhagem” na poesia brasileira; no ensaio “Para uma pedagogia da metáfora”, por exemplo, expõe sua concepção de poesia como metáfora do mundo, com “seu poder de revelar o universal no particular”. Há também ensaios sobre a arte da tradução de poesia, que Paes praticou até o fim da vida – verteu para o português autores de várias línguas, como o americano William Carlos Williams, os gregos Konstantínos Kaváfis e Giorgos Seféris, o francês Paul Éluard, o alemão Rainer Maria Rilke.

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Uma chama afirmativa

11 março, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Boa publicação da Companhia das Letras – uma das poucas no Brasil que contempla o poeta, lançada pela primeira vez em 1986 e reeditada no ano passado –, esta edição bilíngue traz cinquenta dos principais poemas de W. H. Auden, traduzidos por José Paulo Paes e João Moura Jr. o livro é composto por textos escritos desde 1927, quando ele primeiro definiu publicamente suas posições estéticas no que ficou conhecido como “O Manifesto de Oxford Poetry”, até 1973, ano da morte do poeta. Selecionados por João Moura Jr., os textos procuram apresentar um panorama que abarque, conforme disse o organizador, “na medida do possível, as várias fases da obra poética de Auden, que foi um poeta prolífico”. A poesia de Auden partiu da experiência do modernismo, aproveitando a contribuição de Ezra Pound e T. S. Eliot, porém afastando-se do viés reacionário político expresso por ambos para expressar-se numa linguagem pessoal – que todavia não torna-se alheia às grandes questões de sua época. Além da tradução dos poemas, José Paulo Paes escreveu, para esta antologia, um estudo introdutório sobre a vida e sobre a poética do autor. O volume conta ainda com um interessante ensaio a respeito de Auden escrito pelo poeta russo Joseph Brodsky.

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Ali repousa o poeta

3 fevereiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Poética

conciso? com siso

prolixo? pro lixo

 

O poeta José Paulo Paes foi mestre da concisão precisa, própria dos epigramas, aquele tipo de poema curto e mordaz cuja matéria-prima é uma atenta observação do mundo e do ser humano.

Modesto, discreto, estóico, irônico – em sua vida e em sua poesia. Rodrigo Naves, no prefácio à antologia, conta que “José Paulo Paes (1926-1998) era um homem avesso a ênfases – no escrever, no falar, no proceder. Detestava chamar atenção, e seu comportamento discreto era, em um homem constante, talvez a constância predominante. Em situações sociais parecia se ocupar sobretudo com sua bengala…”. Com uma fina auto-ironia, José Paulo Paes declarou, por exemplo, ser o poeta mais importante da sua rua: “Mesmo porque a minha rua/ é curta”. Ele não se colocava entre os grandes mestres da poesia brasileira: “quando penso que alguém da grandeza de Manuel Bandeira se considerava um poeta menor, que mais posso ser senão um mínimo poeta?”. O crítico Davi Arigucci Jr. pontua: “Na poesia como na vida, José Paulo Paes optou sempre pela discrição e o comedimento de quem desconfia das exaltações visionárias e das certezas inabaláveis. Ao seu primeiro livro, deu o título O Aluno. Seu último poema, escrito na véspera da morte, chama-se ‘Dúvida’. Ser poeta para ele era um modo de continuar até o fim sua busca de aprendiz”.

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