fotografia

Significar o mundo

6 novembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Fotografar é segurar o fôlego quando todas as nossas faculdades se conjugam diante da realidade fugidia; é quando a captura da imagem representa uma grande alegria física e intelectual.

Henri Cartier-Bresson

Henri Cartier-Bresson escreveu alguns significativos textos sobre fotografia. O imaginário segundo a natureza é a primeira publicação que reúne os mais conhecidos e comentados deles em um único volume. Figuram, entre os textos selecionados, o certeiro “O instante decisivo” e o belo “Os europeus”. Há também artigos em que Bresson discorre sobre suas viagens a Moscou e China, textos que carregam a intensidade dos trabalhos fotográficos decorrentes. Outros artigos, são dedicados a artistas que foram seus amigos, como André Breton, Alberto Giacometti e Jean Renoir.

Bresson aponta uma ambiguidade essencial na fotografia, despertada pela concepção de que fotografar “é, num mesmo instante e numa fração de segundos reconhecer o fato e a organização rigorosa das formas percebidas visualmente que exprimem e significam este fato”, considerando ainda as contingências históricas e materiais.

O fotógrafo diz não interessar-se pelas fotografias feitas de antemão, “fabricadas ou representadas”, as quais abrem no máximo possibilidades de discussões de cunho sociológico e psicológico. Para ele, mais interessante é ir à descoberta da imagem, surpreendendo-a: “O aparelho fotográfico é para mim um caderno de croquis, instrumento da intuição e da espontaneidade, o mestre do instante, que em termos visuais, questiona e decide ao mesmo tempo. Para “revelar” o mundo, é preciso sentir-se implicado no que se enquadra através do visor”. Segundo o fotógrafo, para isso são necessários “concentração, disciplina de espírito, sensibilidade e sentido de geometria. É através de uma grande economia de meios que chegamos à simplicidade de expressão”.

Cartier-Bresson foi um dos primeiros fotógrafos a descobrir e explorar a rapidez e o potencial imagético das câmeras compactas de 35mm, como a Leica, em 1924. Seu estilo fotográfico de certa forma espelha-se em suas palavras, também elas, “instantes decisivos” na captura de ideias e concepções de mundo.

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“Fotografar é uma operação progressiva da cabeça, do olho e do coração para exprimir um problema, fixar um evento ou impressões. Um evento é tão rico que dá-se voltas em torno dele enquanto se desenvolve. Procura-se a sua solução. Às vezes encontra-se em alguns segundos, às vezes ela demanda horas ou dias; não existe solução padrão; nada de receitas; é preciso estar pronto, como para o tênis. A realidade nos oferece uma tal abundância que devemos cortar ao vivo, simplificar, mas corta-se sempre o que é preciso cortar? É necessário alcançar, trabalhando, a consciência do que se faz. Algumas vezes, a gente tem a impressão de que tirou a fotografia mais forte e, contudo, continua a fotografar, sem poder prever com certeza como o evento continuará a desenvolver-se. Será preciso evitar metralhar, fotografar rápido e maquinalmente, sobrecarregar-se assim de esboços inúteis, que entulharão a memória e perturbarão a nitidez do conjunto“.

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O IMAGINÁRIO SEGUNDO A NATUREZA

Autor: Henri Cartier-Bresson
Editora: Gustavo Gili
Preço: R$ 50,00 (100 págs.)

 

 

 

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