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Jogue fora os atalhos

12 agosto, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Nyjah Huston, por De’Von Stubblefield

O novo livro de poesia do gaúcho Paulo Scott, Mesmo sem dinheiro comprei um esqueite novo, acaba de ser lançado pela Companhia das Letras.

Scott é considerado um dos mais originais poetas brasileiros atuais. Sua poesia é quase prosaica no que tem de fluência ao apresentar histórias e episódios – sobre amores perdidos ou recém chegados, sobre as derrocadas da vida, a violência nas relações humanas, a busca pelo sublime no cotidiano de um escritor brasileiro. A força narrativa de seus poemas permite que sejam lidos quase como se fossem pequenos contos.

Nas palavras de Paulo Henriques Britto: “Neste livro, Paulo Scott deixa bem claro ter plena consciência do que se exige de sua geração, surgida num momento em que, pela primeira vez, após bem mais de meio século, cada poeta tem de construir sua linguagem a partir de um legado diversificado e acachapante, sem as rotas de percurso alternativas que balizaram, para o bem e para o mal, aqueles que os antecederam”.

Em entrevista a Maria Fernanda Moraes, Paulo Scott disse: É o relato engraçado de um dia em que passei numa loja e vi um skate novo da Loft. Eu pensei: tenho cartão de crédito (com limites altos, ainda da minha fase de advogado), vou comprar! E fiz disso, poesia”. Em outra ocasião, em entrevista a Ana Clara Brant,  disse sobre a poesia em geral: “Ela é o grande caos da linguagem literária, o grande salto, a grande ruptura, a grande inovação. A permanência da literatura está no gênero poético. A poesia continua referência muito importante no mundo da arte e da cultura. Grandes cineastas, coreógrafos e músicos a têm como referência. Brincava com os meus alunos, dizendo a eles que, se gostam de um poema, gostam de poesia. Ela é tão única, especial e singular… Pode ser um poema popular ou mais erudito, todo mundo tem o seu preferido”.

Yasmin Taketani, em artigo publicado no Suplemento Pernambuco, em que entrevistou o autor, resume: “Qual o lugar da poesia na vida de Paulo Scott? Os poemas de Mesmo sem dinheiro comprei um esqueite novo (Companhia das Letras), seu novo livro, soam irônicos quanto ao assunto, quando não cheios de dúvida sobre o “cenário inexato de sempre”. Taketani perguntou-lhe: “O poema que abre o livro parece uma longa carta escrita e endereçada a você mesmo. Ela comporta uma mudança no entendimento do mundo, da vida: critica o que hoje vê como mera fumaça do passado, e busca a essência do presente: qual o valor da literatura, o papel do poeta, como ter consciência de si. Poderia comentar as motivações desse poema e responder a uma das preocupações ali desenhadas — qual a melhor forma de sobreviver?”; pergunta a que Paulo Scott respondeu: “É difícil precisar o quanto desse poema é endereçado pelo narrador ao autor. O que posso dizer, com relativa segurança, é que o narrador do poema é uma série de vozes que assumiram uma determinada ambição cujo prazo de validade talvez já tivesse se esgotado. Suponho que nele esteja a sinalização do fim de um ciclo, de uma conveniência, de um conforto específico — nesse sentido o narrador conversa com si mesmo, sendo muitas vozes, muitos olhares, muitas escutas. […] Arriscaria dizer que o verso “tente não culpar mais ninguém”, que encerra o poema, busca uma consequência maior do que a mera representação de um diálogo (possivelmente autodesfigurador) entre narrador e autor, deflagra uma injunção, um modo de sobrevida; mas não é receita”. Questionado sobre a representatividade do poeta nos poemas, ele disse: Bem, cada poema tem um destino próprio (dependerá muito da maneira como será lido). Não pretendo que nenhum deles me represente, pelo contrário, espero deles a dissonância, o que não seja prolongamento vaidoso da minha integridade, das minhas certezas e igrejas — que existam, e resistam, sem mim”.

Paulo Scott tem publicados três romances: Ithaca Road, Habitante irreal, Voláteis; um livro de contos: Ainda orangotangos, adaptado para o cinema por Gustavo Spolidoro, longa-metragem vencedor do 13º Festival de Cinema de Milão; e quatro livros de poemas: O monstro e o minotauro, Senhor escuridão, A timidez do monstro, Histórias curtas para domesticar as paixões dos anjos e atenuar os sofrimentos dos monstros. Traduz do inglês, escreve textos de dramaturgia e roteiros, colabora com revistas, jornais e suplementos de cultura do país e do exterior.

A Companhia das Letras disponibiliza um trecho de Mesmo sem dinheiro comprei um esqueite novo para visualização.

 

MESMO SEM DINHEIRO COMPREI UM ESQUEITE NOVO

Autor: Paulo Scott
Editora: Companhia das Letras
Preço: R$ 32,00 (80 págs.)

 

 

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