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Deslocamentos

4 setembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Claude Levi-Strauss

O olhar distanciado, de Levi-Strauss, proporciona um rico diálogo entre antropologia e história.

Através do manejo dos conceitos de parentesco, organização social, mitologia, ritual, arte, o livro apresenta-se como um pequeno tratado, que compreende a etnologia como responsável por entender de que modo cada sociedade realiza uma “retomada sintética”, sempre original, de um conjunto de elementos que é, em suma, o mesmo para todas.

A antropologia estrutural, sobretudo com sua prática de olhar distanciado, esclarece e analisa as diferenças culturais. 

Segundo François Hartog, no artigo “O olhar distanciado: Levi-Strauss e a história”, o antropólogo “formulou questões que historiadores não se colocavam ou colocavam de outro modo. Se sua prática de do olhar distanciado, tendo por objeto a história dos historiadores, às vezes chocou, suscitou mal-entendidos e resistências, ela também os convidou a um deslocamento do seu ponto de vista sobre seu próprio objeto”.

Em entrevista, concedida aos seus noventa anos, a Beatriz Perrone Moisés, professora do Departamento de Antropologia da USP, Levi-Strauss respondeu, questionado sobre “Ver de perto, para ver de longe”, expressão que traduz o olhar distanciado característico do antropólogo: “A expressão é de Hami, que era um grande autor dramático japonês. Ele dizia que, para ser um bom ator, era preciso olhar para si mesmo, o tempo todo, com os olhos afastados do espectador. Acho que o olhar distanciado pode ser aprendido, mas acho também que é algo que se pode possuir desde o nascimento, uma espécie de característica da personalidade de cada um. No meu caso, creio que se trata da segunda hipótese”.

Para Levi-Strauss, o olhar distanciado permite o vislumbre de que os “materiais brutos que o meio ambiente natural oferece à observação e reflexão são, ao mesmo tempo, tão ricos e tão diversos que, de todas essas possibilidades, o espírito não é capaz de aprender senão uma fração. Ele serve-se deles para elaborar um sistema entre uma infinidade de outros igualmente concebíveis”. Trata-se de uma escolha de elementos, organizados em sistemas e unidos por relações, de modo a formarem todos coerentes, organizados à guisa do próprio funcionamento do pensamento. Para compreender cada fenômeno cultural, “é-se então obrigado a postular que as operações mentais obedecem a leis, no sentido que se fala de leis do mundo físico”. “Presentes ou ausentes, todos esses meios se integram em construções ideológicas que se vergam a outras coações, estas mentais, as quais constrangem famílias de espíritos diversas a seguir os mesmos encaminhamentos”.

 

O OLHAR DISTANCIADO

Autor: Claude Levi-Strauss
Editora: Edições 70
Preço: R$ 91,70 (424 págs.)

 

 

 

 

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