Artes Plásticas

Desenhos de Iberê

15 abril, 2014 | Por Isabela Gaglianone

iberecamargo

Este volume da coleção “Cadernos de desenho” dedicado a Iberê Camargo traz 111 desenhos, percorrendo mais de meio século da produção do artista: desde seus primeiros desenhos, feitos em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, passando por aqueles realizados no período em que viveu em Roma e Paris, chegando até os desenhos feitos às vésperas de sua morte. Organizado por Lygia Eluf, o livro conta com uma introdução analítica escrita pelo professor Eduardo Kickhöfel. As imagens pertencem ao acervo da Fundação Iberê  Camargo e muitos são, aqui, publicados pela primeira vez.

Iberê Camargo desenvolveu uma obra de forte carga pessoal, percorrendo um caminho solitário na arte brasileira. Segundo o crítico Lorenzo Mammì, “Iberê é redescoberto pela nova geração, ainda que já fosse um artista importante. Ele sempre foi um “inatual”, fora das correntes de seu tempo. Por seu interesse voltado ao passado, Iberê se punha como seguidor de uma tradição da pintura. E, de repente, é visto como orquestrador de uma tendência de pintura atual feita pelos jovens”. Em seus desenhos, encontramos a mesma intensidade visceral característica de sua pintura. Apresentando diferentes técnicas, os desenhos de Iberê podem ser distinguidos e reunidos em quatro direções principais, como sugeriu a exposição A linha incontornável: Desenhos de Iberê Camargo, com curadoria de Eduardo Veras, realizada em 2011. O primeiro destes grupos, segundo Veras, é constituído pelos “desenhos de formação”, abarca as obras criadas durante a infância e a adolescência do artista. Os “desenhos urgentes” incluem anotações de caráter momentâneo. Os “desenhos domésticos”, por sua vez, revelam o interesse de Iberê por cenas cotidianas: são retratos de seu gato, de sua esposa, da casa onde morava e de outros lugares por onde passava. Por fim, os “desenhos insistentes”, obras mais bem acabadas, que exploram temáticas recorrentes ao longo de sua trajetória artística, como os carretéis, as idiotas, as figuras dos ciclistas.

O legado de Iberê como desenhista é extenso: são aproximadamente 7.000 desenhos produzidos por ele ao longo da vida, 3.246 somente no acervo da Fundação Iberê Camargo, incluindo grafites, bicos de pena, pastéis, estudos, esboços, riscos com esferográfica, anotações, aguadas e guaches.

Em 1943 Iberê fundou com Geza Heller e Elisa Byington o Grupo Guignard, um ateliê coletivo que funcionava num prédio da Rua Marquês de Abrantes, em Botafogo, onde antes existira a gafieira Flor do Abacate, o que levou o poeta Manuel Bandeira a batizar o grupo de “Nova Flor do Abacate”. Guignard se incumbia das aulas de desenho e pintura, e segundo Iberê “impunha o uso do lápis duro, duríssimo, o que deixava sulcos no papel como se tivessem sido feitos por um prego”. Dessa mesma época datam seus primeiros ensaios com a gravura em metal, sob a orientação de Hans Steiner e do próprio Guignard. Iberê em entrevista certa vez disse: “Após uma rápida passagem pela Escola Nacional de Belas Artes, tornei-me aluno de Guignard. A sua obra teve breve influência sobre o meu trabalho, mas marcou-me para sempre a pureza do seu espírito”.

 

 

IBERÊ CAMARGO – COLEÇÃO CADERNOS DE DESENHO

Autor: Lygia Eluf (org.)
Editoras: UNICAMP e Imprensa Oficial
Preço: R$ 70,00 (262 págs.)

 

 

 

 

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