matraca

Um depósito de ferragens transformado em Lira

12 setembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Era ali que as coisas aconteciam… Era uma espécie de catacumba, onde se faziam muitas coisas que não aconteciam na superfície” (Luiz Tatit).

Festa do Lira Paulistana, 1983.

Entre 1979 e 1986, na rua Teodoro Sampaio, funcionou o lendário Teatro Lira Paulistana que agora, depois de ter-se tornado documentário em novembro do ano passado, ganha registro impresso no livro Lira Paulistana – Um delírio de porão, escrito por Riba de Castro, lançado ontem à noite em São Paulo. Quem perdeu o lançamento, pode, hoje à noite, ver a exibição do documentário Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista, seguida de um bate-papo, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, na Rua Henrique Schaumann, 777, em Pinheiros, São Paulo.

Riba de Castro foi um dos sócios do Lira Paulistana e, no livro, conta a história daquele significativo pólo cultural paulistano. O volume é ilustrado por vasto material iconográfico, entre fotografias, cartazes de divulgação, capas de livros, discos e jornais produzidos pelo teatro, além de depoimentos de artistas, produtores culturais e jornalistas. Realizado com o apoio da Lei de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura, o livro tem patrocínio da Natura Musical: o resultado dos incentivos é o preço, quase simbólico do livro (na 30porcento, só 14,00). 

O Teatro Lira Paulistana foi palco de diversas manifestações artísticas e berço do movimento musical que ficou conhecido como Vanguarda Paulista. Artistas como Jards Macalé, Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, Tetê Espíndola e Cida Moreira, além de grupos como o Língua de Trapo, Titãs, Rumo, Ultraje a rigor e Premê (Premeditando o Breque), fizeram história no espaço cuja singela arquibancada abrigava apenas duas ou três centenas de pessoas. Além de shows, o Lira também abrigou apresentações de teatro, cinema, artes visuais e tornou-se uma verdadeira referência de resistência artística e cultural.

Em entrevista, Riba de Castro disse: “Muito estudos já foram feitos sobre o Lira até hoje, mas nenhum conseguiu mostrar que não foi só uma casa de shows, mas também foi onde surgiu a chamada Vanguarda Paulista. Além disso, tivemos outros movimentos importantes, como um jornal semanal, gravamos alguns dos primeiros CD’s de alguns artistas que estavam ali, tínhamos uma editora, gravadores, e algo de que me orgulho muito: fizemos um grande mural plástico na Benedito Calixto, em um momento em que ainda não existia intervenção nas ruas”.

Segundo Mouzar Benedito, na apresentação do livro, “o Lira não foi “só” um teatro. Foi muito mais. Um jornal pioneiro com a programação cultural da cidade, uma gravadora, uma editora e também um reduto de militância musical e política”. Na mesma apresentação, seu depoimento sintetiza: Sempre pensei que devia existir um livro registrando a existência do Lira Paulistana escrito por um dos seus criadores, e agora tenho o prazer de ver isso acontecendo, como uma espécie de autobiografia dele, pois Riba e Lira para mim se confundem, são uma coisa só, uma “pessoa” só, agitada, anárquica e anarquista. O Lira foi-se, acabou, e a outra parte dele, o Riba, ficou resistindo com sua criatividade libertária, militante, humanista. Em outro porão, na Vila Madalena, ele criou o Estúdio Pirata, que, usando uma palavra dos tempos atuais, poderia se autodenominar “multiarte”, onde esbanjava criatividade”.

Toda essa trajetória foi contada no documentário Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista, lançado em 2013, dirigido também por Riba de Castro. O documentário apresenta depoimentos de artistas que se apresentavam no Lira. O livro, por sua vez, enquadra a cena a partir dos bastidores, conta com episódios que mostram como foi o desenvolvimento da casa e a administração do Teatro.

 

LIRA PAULISTANA – UM DELÍRIO DE PORÃO

Autor: Riba de Castro
Incentivo: Lei de Incentivo à Cultura / Patrocínio: Natura Musical
Preço: R$ 14,00 (128 págs.)

 

 

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